Por Camila Maia e Juliana Schincariol – Valor Econômico

O processo de venda do controle da Light pela Cemig está se mostrando mais complicado do que o previsto pela estatal mineira. Além dos obstáculos referentes às enormes perdas por furtos na área de concessão da elétrica carioca, a operação também enfrenta a competição de outros ativos de distribuição à venda. É o caso das concessionárias da Eletrobras e a esperada saída da AES da Eletropaulo.

Enquanto negocia para tentar melhorar as ofertas já recebidas – da Equatorial e da Enel -, a Cemig também não descarta reabrir o data room (sala virtual de informações) na expectativa de que novos interessados possam surgir, segundo uma pessoa a par do assunto. Neste caso, as negociações recomeçariam do zero.

Conforme outra fonte, propostas vinculantes devem ser recebidas no segundo trimestre, quando acontecerá o processo de “due dilligence” (auditoria operacional e financeira) na companhia posta à venda. Até o fim do ano passado, a Cemig esperava concluir o negócio no primeiro semestre, o que parece ficar cada vez mais distante.

As ofertas recebidas até agora pelo ativo não atendem totalmente às necessidades financeiras da Cemig, segundo apurou o Valor . A Equatorial fez uma proposta por toda a fatia da Light em poder da estatal mineira, mas parte do pagamento seria em ações. Com a valorização de cerca de 12% dos seus papéis nos últimos três meses e o recuo de 9% das ações da Light no período, o negócio se torna mais atrativo para a Equatorial. Com isso, a distribuidora – dona da Celpa e Cemar – utilizaria menos ações para fechar a compra da empresa fluminense.

No entanto, caso queira seguir em frente, vai precisar convencer a Cemig a negociar as condições e a aceitar pelo menos parte do pagamento em ações.

Por outro lado, a Light não é o único alvo da Equatorial, vista como uma das principais candidatas a arrematar as distribuidoras da Eletrobras. Ela reúne experiências bem sucedidas na recuperação da Cemar, do Maranhão, e da Celpa, do Pará, empresas que estavam financeiramente quebradas.

O plano inicial da Cemig, porém, é receber somente dinheiro. Como conseguiu refinanciar grande parte de sua dívida ao alongar os prazos, a venda da Light passou a ser menos “urgente”. Dessa forma, tenta melhorar as ofertas recebidas.

Já a italiana Enel, interessada apenas nos ativos da distribuição da Light, tem um caminho ainda mais longo a seguir, ainda que seja considerada um dos interessados mais fortes. Sua proposta corresponderia a um valor implícito de R$ 17 por ação, diz uma fonte.

A oferta trouxe termos mais atrativos do que a feita pela Equatorial, mas é muito difícil que a Cemig venda apenas o segmento de distribuição. Para isso, a operação precisaria incluir uma cisão da Light – operação considerada bastante complexa. Além de precisar ser aprovada em assembleia de acionistas, a empresa teria que renegociar covenants com os credores, o que poderia resultar no vencimento antecipado de dívidas.

A Cemig pretende utilizar os recursos da venda da Light para pagar a put (opção de venda) que os bancos sócios no controle da Light – Santander, Banco do Brasil e Votorantim – ainda têm contra a companhia, de cerca de R$ 700 milhões.

Parte da opção que vencia em novembro foi postergada em um ano. Ao utilizar os recursos da venda da Light para pagar os bancos com dividendos, a empresa tem uma vantagem tributária. Isso só será possível se a Light for vendida em dinheiro.

Encontrar uma solução – ou um novo interessado – para a venda da Light é um dos caminhos que o governo mineiro busca para sanear suas finanças com a proximidade das eleições e salários de servidores em atraso. Pelo lado dos compradores, empresas capitalizadas e com interesse no setor de distribuição de energia no país, há outras alternativas para investir.

A Eletrobras pretende realizar no fim de abril o leilão de privatização das suas seis distribuidoras localizadas no Norte e Nordeste do país. Elas serão vendidas pelo valor simbólico de R$ 50 mil cada uma, mais uma obrigação de investir para melhorar a qualidade do serviço. O maior problema dessas concessionárias, que é o endividamento, vai ficar com a holding.

Outra concorrência é a Eletropaulo. Com a migração para o Novo Mercado no ano passado, a AES e o BNDES deixaram de ser controladores e a companhia virou uma ‘corporação’. A AES ainda deve fazer uma oferta secundária de ações da distribuidora paulista, associada à oferta primária que deve levantar recursos para pagar uma dívida bilionária com a Eletrobras.

Procurada, a Enel disse que tem olhado o mercado de energia brasileiro como um todo, porém não comenta ativos específicos. Equatorial e Cemig não responderam à reportagem até o fechamento desta edição.