Por Letícia Carvalho, G1 DF

15/01/2018 05h00

População deixou de gastar quase 980 litros de água por segundo em 2017. Durante pior crise hídrica da história, Caesb inaugurou 12 obras; mesmo com intervenções, principal reservatório amargou índice de 5,3% em novembro.

O racionamento de água no Distrito Federal completa, nesta terça-feira (16), um ano de vigência. Desde janeiro de 2017, os 1.631.549 moradores das regiões abastecidas pelo reservatório do Descoberto tiveram que se familiarizar com termos que, em anos interiores, constavam apenas nos relatórios técnicos da Companhia de Saneamento do Distrito Federal (Caesb). As frases “crise hídrica e “nível das barragens” ultrapassaram os limites dos informes da companhia e foram parar até em conversas de bar.

Pouco mais de um mês após a implementação da medida, áreas que recebem água da bacia de Santa Maria também passaram a enfrentar o rodízio. Ao todo, 557.820 pessoas tiveram que readaptar a rotina para conseguir ficar pelo menos 24 horas sem água uma vez por semana. Como o retorno é gradual, alguns imóveis sentiram o impacto por mais tempo.

A falta de água em casa e em comércios e a constante insegurança sobre o abastecimento transformaram o calendário do rodízio, divulgado pela Caesb e pela imprensa, em leitura obrigatória. Afinal, em um ano de racionamento, os candangos ficaram, em média, 2 meses sem água nas torneiras – 24 horas a cada seis dias.

Com reduções nos ciclos das máquinas de lavar roupa, banhos mais curtos, reaproveitamento de água e outras iniciativas, a população do DF deixou de gastar quase 980 litros de água por segundo em 2017 – uma redução de 12% em relação a 2016. Esse montante corresponde, em média, ao consumo de Ceilândia, que consome cerca de 830 litros por segundo.

Investimentos

Impulsionada também pela maior crise hídrica da história do DF, a Caesb deu andamento, em 2017, a 12 obras, totalizando um investimento de R$ 133.619.259,62 no ano. As intervenções aumentaram a captação de água em 16,5%.

Segundo cálculos da própria empresa, a capacidade de puxar água da natureza passou de 9.500 litros por segundo para 11.076 litros por segundo, no auge de captação.

Pelos cálculos da Caesb, o acréscimo de 1.576 litros por segundo é suficiente para abastecer aproximadamente 880 mil habitantes – média populacional das regiões de Ceilândia, Samambaia e Recanto das Emas.

A maior parte dessa capacidade adicional está concentrada em duas obras de médio porte: o subsistema do Bananal e a obra emergencial de captação do Lago Paranoá. A construção do Bananal permitiu retirar uma média de 726 litros por segundo do córrego. A obra custou R$ 20 milhões, bancados pela Caesb com financiamento do Banco do Brasil, e contribuiu com o abastecimento de 170 mil habitantes de áreas como Asa Norte, Sudoeste, Cruzeiro e Noroeste.

A obra emergencial de captação do Lago Paranoá passou a captar cerca de 700 litros por segundo do lago artificial, em uma estação no Setor de Mansões do Lago Norte. A estrutura custou R$ 42 milhões, pagos pelo Ministério da Integração Nacional, e envia água para o sistema Santa Maria/Torto.

Além dessas construções, a Caesb também fez obras para interligar os reservatórios e, assim, “desafogar” a demanda do Descoberto – principal bacia do DF. Antes da crise hídrica, o reservatório abastecia 60% dos imóveis, atualmente ele fornece água para 52. O Santa Maria passou de 21% para 29%.

Reservatórios em crise

Mesmo com o esforço dos candangos e com as intervenções da Caesb, o volume das barragens do Descoberto e de Santa Maria diminuiu mês a mês durante a seca. Em 7 de novembro, o Descoberto amargou o índice de 5,3% – o menor da história do reservatório. O mínimo atingido pelo Santa Maria em 2017 foi de 21,6%.

A queda do volume da bacia motivou a Caesb a elaborar um plano de racionamento de 48 horas consecutivas e enviá-lo à Agência Reguladora de Águas do DF (Adasa). O projeto, no entanto, acabou parado na gaveta. Em dezembro, as chuvas voltaram a cair e a capacidade do Descoberto chegou aos 30,1% no último dia do ano.

Apesar de os reservatórios terem se recuperado, 2017 terminou com o volume de precipitações 15% abaixo do esperado pelo Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet). A previsão era de que o ano encerrasse com o acumulado de 1.525,9 milímetros, no entanto, choveu apenas 1.304,6 milímetros.

Com base na expectativa do clima e nas captações da Caesb, a Adasa estudou três cenários possíveis para a barragem (veja no gráfico abaixo) em 2018. Segundo a agência, a projeção “mais realista” é de que o Descoberto chegue aos 50% em abril. Para isso, as chuvas teriam de repetir a intensidade registrada no ciclo hidrológico de 2016/2017 – o pior da história da capital.

Por esse cenário, se o Descoberto alcançar os 50% em abril, a interrupção de fornecimento por 24 horas a cada seis dias será mantida, no mesmo formato atual, e a ameaça de um racionamento de 48 horas segue suspensa.

Outros cenários

Além do cenário realista, outras duas possibilidades foram levantadas pela Adasa e divulgadas nesta quinta. Na apresentação, a agência reforçou a mensagem de que todas as simulações têm “alto grau de incerteza”. Os cenários alternativos são:

o “pessimista”, que trabalha com o reservatório do Descoberto em 34%, em abril. Neste caso, segundo o diretor-presidente da Adasa, Paulo Salles, há “possibilidade de um segundo dia de racionamento”.

o “otimista”, que prevê até 71% de preenchimento do Descoberto em abril. Para isso, é preciso que o ritmo de chuvas no DF tenha uma alta de 20% em relação à média histórica. Mesmo nesse caso, não há uma indicação de que o racionamento de um dia chegue ao fim.