Por Fernanda Pires – Valor Econômico

Um dos líderes mundiais de gerenciamento de água e resíduos, o grupo de origem francesa Suez pretende ampliar as áreas de atuação no Brasil, onde está há 80 anos e já teve concessão de água e saneamento em Manaus (AM) e Limeira (SP). A companhia atua hoje no país como prestadora de serviços em duas frentes. Na área industrial, por exemplo, mantém unidades de tratamento móvel da água em plataformas offshore da Petrobras. A segunda frente é com manutenção de médio a longo prazo que combinam ações de gerenciamento de pressão, monitoramento inteligente, detecção e reparo de vazamentos. Neste caso, são perto de dez contratos – todos com empresas de saneamento públicas ou de economia mista.

Em entrevista ao Valor, o diretor de estratégia e relações institucionais da Suez América Latina, Christophe Warnier, disse que estão no radar, além da ampliação do número dos atuais contratos entre 10% e 20% por ano, entrar no que ele chama de “atividades tradicionais”, como a construção de infraestrutura de água (estação de tratamento de águas residuais e unidades de tratamento de água potável) e a gestão do ciclo da água (não apenas soluções avançadas, mas gerenciamento completo de captação, produção, distribuição, esgoto e tratamento de água).

“Nessas atividades, a Suez pode operar com muitos modelos contratuais diferentes. Com assistência técnica, operação e manutenção, concessão, entre outros”, disse. Warnier destacou que o modelo vai depender das necessidades das autoridades públicas e do quadro regulatório. Sobre a forma de crescimento, pode ser via mercado primário ou secundário.

Hoje a empresa está mais concentrada no crescimento orgânico, mas aberta à avaliação de fusões e aquisições. Da receita total da Suez, € 930 milhões foram oriundos em 2016 de projetos que opera em países na América Latina

“Os setores de água e saneamento estão se movendo, e o papel do setor privado está evoluindo e resulta de decisões políticas e locais, como vemos no programa desenvolvido com o BNDES para avaliar projetos de Parcerias Público Privadas (PPP)”, disse o executivo.

Listada na bolsa de Paris, a Suez não detalhou números de investimentos nem quando pretende aumentar a presença no Brasil. Com 90 mil funcionários em cinco continentes, registrou em 2016, último ano fechado, faturamento de € 15,32 bilhões e lucro líquido de € 420,3 milhões. Da receita total, € 930 milhões foram provenientes de projetos na América Latina.

O Brasil não é o principal país da região, onde está presente em quase todas as nações. A região é um mercado estratégico para a Suez.

A América Latina tem a maior urbanização do mundo: 80% da população vive em cidades, mas existe grande disparidade no acesso à água e ao saneamento. Um terço dos recursos de água doce do mundo está na região, mas grande parte da população é carente. A estimativa é que 34 milhões de pessoas não tenham acesso a fontes seguras de água e 106 milhões vivam sem saneamento satisfatório.

O grupo busca o que chama de gestão inteligente e sustentável dos recursos, com soluções sob medida para cada caso. Entre os contratos firmados com a Sabesp, o executivo destaca um, de 2013, para redução das perdas no sistema de abastecimento do Jardim São Luiz, na capital paulista. “Consiste em prestar serviços tanto técnicos como de pedagogia da evolução do serviço da água”. É o que a empresa chama de contratos de performance. A economia medida em metros cúbicos remunera a prestação da Suez.

A cadeia de negócio da Suez não se restringe ao circuito da água, mas engloba as oportunidades que o tratamento desse bem gera. Para enfrentar os desafios de qualidade e disponibilidade, o grupo aposta na revolução dos recursos. Com tecnologias digitais e aplicações inovadoras, recupera 17 milhões de toneladas de resíduos por ano na Europa, onde está sua principal atuação, e produz 3,9 milhões de toneladas de matérias-primas secundárias, além de 6.254 GWh de energia local e renovável.

Em Le Pecq, comunidade próxima a Paris, fica o Centro Internacional de Pesquisa em Águas e Meio Ambiente (Cirsee), principal “think tank” da empresa. É lá que a Suez criou, em 2014, um laboratório que trabalha para as unidades responsáveis pela reciclagem de plástico instaladas na França, Bélgica, Holanda e República Tcheca. Nelas, a Suez coleta por ano 400 mil toneladas de resíduos plásticos, dos quais de 120 mil a 130 mil toneladas são recuperadas para serem vendidas. O objetivo é dobrar esse aproveitamento até 2020.

A repórter viajou a convite do Ministério das Relações Exteriores da França