João Pedro Pitombo – Folha de São Paulo

17/11/2017  02h00

Nos Estados, a recessão afetou especialmente a prestação de serviços públicos e os investimentos. O saneamento básico e o abastecimento de água então entre os mais prejudicados especialmente na região Nordeste.

O ciclo de construções de barragens e adutoras, que marcou o início da estiagem há seis anos, não passa de lembrança agora. Em 2014, foram destinados R$ 823 milhões para obras hídricas no Nordeste e semiárido de Minas Gerais. O valor despencou para R$ 370 milhões no ano seguinte.

Não tardou para que a descontinuidade nos investimentos chegasse ao dia a dia do cidadão. Moradora do Engenho Velho da Federação, bairro popular numa área central de Salvador, capital da Bahia, a manicure Luciene Guedes Silva, 50, interrompe regularmente o sono por volta de meia-noite. Motivo: encher mais de 20 baldes e bacias que guarda no banheiro de sua casa para garantir água no dia seguinte.

Sem uma caixa-d’água, ela vive como refém do inconstante abastecimento no qual a água só chega às torneiras tarde da noite. “Pior é quando tenho que lavar roupa, fico a madrugada inteira acordada”, conta a manicure.

A deterioração das rodovias é outro indicador da gravidade da crise. Neste ano, 63,4% das rodovias baianas foram classificadas como deficientes, segundo estudo da CNT (Confederação Nacional dos Transportes). Em 2015, eram 55,5%.

A CNT estima que seriam necessários R$ 4,9 bilhões para recuperar as rodovias. Mas recursos para investimento andam em falta nos cofres estadual e federal.

Como alternativa, o governo da Bahia tenta conseguir um empréstimo de R$ 600 milhões do Banco do Brasil para recuperar rodovias. A concessão do crédito foi autorizada pelo governo federal em agosto, mas o dinheiro não foi liberado até agora.