Temer não escolheu um nome, mas definiu um perfil

Mariana Carneiro Gustavo Uribe – Folha de São Paulo

7.mar.2018 às 2h00

O aviso de Paulo Rabello de Castro de que irá deixar a presidência do BNDES para concorrer nas eleições provocou uma corrida de possíveis candidatos ao posto.

Segundo relatos ouvidos pela Folha, um dos que tem se colocado na disputa é o atual diretor de planejamento do banco, Carlos da Costa. Ex-estagiário de Rabello de Castro na consultoria RC Consultores, ele chegou ao banco com a bênção do atual presidente. Passou pelo Ibmec-SP e JP Morgan.

Tem feito um périplo em Brasília desde o mês passado para tentar se viabilizar no posto. No início de fevereiro, se reuniu com o ministro da Secretaria-Geral, Moreira Franco. Responsável pelo PPI (Programa de Parcerias de Investimentos), Moreira está entre os que vão escolher o nome que assumirá o BNDES, uma vez que o banco é um dos principais financiadores de projetos de infraestrutura.

Costa também também pediu apoio do presidente da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo), Paulo Skaf. Na próxima quinta-feira (8), tem encontro marcado com o senador Romero Jucá (MDB-RR), que já ocupou o Ministério do Planejamento, sob o qual o BNDES está submetido.

Nas conversas com emedebistas, ele tem feito elogios ao governo federal e não esconde a pretensão de assumir o banco estatal. O Palácio do Planalto definiu que a troca ocorre no fim de março, mas uma reunião para avaliar os nomes está marcada para esta semana.

Temer não escolheu um nome, mas definiu um perfil: quer alguém que defenda enfaticamente a sua gestão, e que tenha uma trajetória no banco, já que o novo presidente ficará apenas nove meses à frente do posto.

O emedebista receia que alguém de fora poderá ter dificuldades para se adaptar ao órgão em pouco tempo e tende a ser refutado pelos servidores de carreira, que defendem a escolha de um nome da instituição financeira.

O Ministério da Fazenda defende outro nome, o do secretário de acompanhamento fiscal, Mansueto Almeida. A seu favor, Mansueto tem o tempo de trabalho no governo –chegou ao ministério com Meirelles, em 2016. Mas tem pouco apoio político.

Correm por fora o presidente do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), Ernesto Lozardo, e o diretor da Área Financeira do BNDES, Carlos de Freitas.

O primeiro enfrenta resistências dentro do BNDES e entre assessores presidenciais, que alegam ser uma nova dor de cabeça encontrar um sucessor para o Ipea.

O segundo apresentou resistência à devolução de recursos ao Tesouro Nacional em um momento em que o governo precisa do dinheiro para fechar as contas.

Próximo a Temer, Rabello de Castro produziu alguns desgastes com o Planalto. Fez declarações contrárias à devolução de recursos do BNDES e criticou a mudança da taxa de juros do banco para a TLP (taxa de longo prazo), o que pôs fim a subsídios nos empréstimos.

À Folha, Carlos da Costa desconversou sobre a intenção de assumir o posto. Disse que Paulo Rabello pode mudar de ideia e ficar no banco, o que é improvável.

Costa afirma que procurou autoridades em Brasília para falar sobre o planejamento do banco para os próximos anos. “O banco está diminuindo em volume de desembolsos mas não em impacto.” Em sua opinião, a TLP é boa para empresas que tomam empréstimos no longo prazo e também é positiva para a economia.

“A gente quer ver a Selic (taxa de juros básica da economia) e a TLP continuarem caindo. Quanto mais fontes de financiamento melhor.”

QUEM ASSUMIRÁ O BNDES?

Veja cotados para ocupar lugar de Rabello de Castro

Mansueto Almeida

Secretário de Acompanhamento Fiscal, Energia e Loteria do Ministério da Fazenda. É o nome preferido do ministro Henrique Meirelles

Carlos Thadeu de Freitas

Diretor da Área Financeira e Internacional do BNDES, foi levado para o banco por Rabello de Castro. É o decano na diretoria e, por isso, tem apoio dos técnicos do banco

Ernesto Lozardo

Presidente do Ipea, tem a seu favor a proximidade com Michel Temer. Porém não tem apoio nem na Fazenda nem entre os assessores presidenciais. O nome dele tampouco encontrou apoio dentro do BNDES

Carlos da Costa

Diretor de Planejamento do banco, assumiu o cargo em agosto de 2017. Foi levado para o BNDES por Paulo Rabello de Castro, de quem foi estagiário na RC Consultores