Por Rodrigo Rocha – Valor Econômico

11/05/2018 – 05:00

O anúncio de um reposicionamento tarifário de 3,507% derrubou pela segunda vez na semana as ações da Sabesp, que fecharam ontem em queda de 6,08%, liderando as perdas do Ibovespa. A reação negativa do mercado retirou R$ 1,36 em bilhão de mercado apenas no pregão de ontem, para R$ 21 bilhões.

A Arsesp, agência reguladora de saneamento de São Paulo, informou na noite de quarta-feira o tamanho do reajuste nas tarifas da companhia, que serão aplicados a partir de 10 de junho.

O número é inferior ao da nota técnica preliminar divulgada pela própria agência em março, que calculava uma elevação de 4,77% na segunda e última fase do processo. Na primeira fase, encerrada em novembro, a elevação foi de 7,88%.

A companhia construiu diversos cenários durante as audiências públicas realizadas no período, defendendo mudanças nas bases de cálculo que levariam a um reajuste superior ao do proposto pela Arsesp, mesmo sem fixar um número exato.

A maior mudança que levou à redução do reajuste foi um corte de cerca de R$ 400 milhões por ano na projeção de despesas operacionais esperadas pela Arsesp. Para o intervalo entre 2017 e 2020, enquanto a Sabesp projeta R$ 24,8 bilhões em despesas operacionais no período, a expectativa da agência é de R$ 21,13 bilhões.

A decisão encerra uma processo de revisão quadrienal que durou mais que o esperado e não foi bem recebido pelo mercado. “Em nossa opinião, todo o processo foi confuso e teve um resultado negativo. Acreditamos que essa experiência provavelmente terá um efeito negativo na imagem da agência reguladora e da empresa, e é algo que os investidores nunca esquecerão”, afirmam os analistas do Itaú BBA em relatório.

O banco vê um efeito negativo de R$ 2,1 bilhões na avaliação da empresa, devido a revisão.

Como ponto de vista positivo, o destaque do Itaú BBA foi a criação de um fundo municipal que vai absorver parte das despesas com royalties pagos ao município de São Paulo. Outros ajustes importantes foram na base de ativos e elevação das estimativas de investimentos.

O J.P. Morgan lembrou em análise que na proposta preliminar o corte de despesa operacional projetado para a Sabesp foi de 8,16%, e agora é de 14,76%. A leitura do banco é de que, ao impor um corte maior sobre o plano de negócios da Sabesp, a agência está dizendo que a empresa deve se tornar mais eficiente para atingir a taxa de remuneração regulatória.

“Os números finais de hoje [ontem] ressaltam nossa opinião de que a maior lucratividade está, com frequência, escorregando pelos dedos, e que altos aumentos tarifários durante um período eleitoral dificilmente serão implementados”, completa a análise.

É a segunda vez na semana que o noticiário afeta a negociação das ações da companhia na bolsa. Na segunda-feira, o papel caiu 4,2% com a indicação de Karla Bertocco para substituir Jerson Kelman na presidência.

A leitura é que a saída de Kelman poderia reduzir o ímpeto de defesa de uma revisão tarifária mais vantajosa para a empresa.

A semana da Sabesp deve ganhar mais um elemento de discussão, com a publicação dos resultados trimestrais. Até o fechamento desta edição, os números ainda não haviam sido divulgados.