Por Raphael Di Cunto – Valor Econômico

18/12/2018 – 05:00

O presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), defendeu ontem que o futuro governo Bolsonaro faça a reforma da Previdência de uma vez só, e não “fatiada” por setores, para evitar perder seu capital político sem concluir a votação toda. “[Se] Fizer em três, quatro etapas, você vai fazer a primeira e vai deixar de fazer as outras”, afirmou.

A estratégia defendida por Maia vai na contramão do que afirmou há duas semanas o presidente eleito Jair Bolsonaro, que prometeu fazer a reforma por partes e começar pela aprovação da idade mínima para aposentadoria, para a qual já existe uma proposta de emenda constitucional, apresentada pelo governo Temer e aprovada com muitas mudanças na Comissão Especial. Já o futuro ministro-chefe da Casa Civil, Onyx Lorenzoni (DEM), declarou na semana passada que o fatiamento não está decidido.

Maia ressaltou que a decisão sobre qual reforma da Previdência encampar é do governo, mas que, na sua opinião, “o correto é votar uma só reforma”. “Uma nova [ou] a que está colocada [do governo Temer]. Fatiar a reforma vai tirando força do governo para votar os temas que vem em seguida”, disse, em entrevista a um programa de rádio lançado numa parceria entre a TV Câmara e a Câmara Municipal de Salvador.

Para o presidente da Câmara, é preciso fazer um pacto com prefeitos e governadores de apoio à reforma, que dará condições para o governo federal discutir o pacto federativo e aumentar a distribuição de recursos para os Estados e municípios. “Tem que pactuar o que vai ser aprovado, fazer um pacto com os prefeitos e os governadores”, disse.

Após se reunir com o governador da Bahia, Rui Costa (PT), Maia destacou que a Previdência é um problema de todos os partidos. “Ele [o governador] mostrou como cresce o déficit da previdência aqui [na Bahia]. Dobra a cada quatro anos.

Você perde R$ 8 bilhões por ano que poderia estar investindo em outras prioridades do governo”, afirmou. Na Bahia, o DEM, que é oposição, acusa o governador de esconder a situação o Estado durante a campanha e depois propor o aumento da alíquota previdenciária dos servidores públicos de 12% para 14%. Maia, que tem atuado nos bastidores para viabilizar sua reeleição em fevereiro para o comando da Câmara, afirmou ainda que tem grande expectativa sobre o governo Bolsonaro, pela “vitória contundente com agenda de reformas, de mudanças, remodelagem do pacto federativo”, e pelo papel do futuro ministro da Economia, Paulo Guedes. “A expectativa é grande para que a gente possa, de fato, votar as mudanças que o Brasil espera”, declarou.

O presidente da Câmara, contudo, evitou falar da própria recondução. Negou que já seja candidato e afirmou que não existe favorito neste tipo de eleição. “Hoje tenho meu voto, se eu resolver ser candidato. A partir daí vamos construir com os outros”, disse, ressaltando que a Câmara deve respeitar a agenda da maioria e do governo, garantindo à oposição o direito de expressar seu ponto de vista no plenário.