Por Juliano Basile – Valor Econômico

O Fundo Monetário Internacional (FMI) concluiu ontem a sua reunião anual, em Washington, com uma boa notícia para a economia mundial e um alerta, especialmente para os emergentes. A boa notícia é que a recuperação global se tornou uma realidade. Ao todo, 75% do PIB mundial está em aceleração. O crescimento da economia global deve ficar em 3,6% neste ano, superando consideravelmente os 3,2% de 2016, que foi a menor taxa desde 2009. A recuperação está acontecendo e, para 2018, está prevista um alta do PIB global de 3,7%.

As trocas comerciais cresceram sensivelmente em relação ao ano passado e passaram de 1,3% para estimados 3,6% no fim de 2017, de acordo com dados da Organização Mundial de Comércio (OMC). O FMI verificou que, apesar dos discursos protecionistas, há um engajamento crescente dos países no comércio global. Logo, os discursos de tendência mais protecionista do governo Trump e de alguns países europeus, como o Reino Unido, movimentaram expectativas, principalmente após o Brexit, em junho de 2016, e as eleições americanas, em novembro passado, mas não tiveram consequências práticas no comércio até agora.

Já a advertência do FMI é que este momento de recuperação deve ser aproveitado para os países realizarem ajustes. Os diretores e técnicos da instituição veem uma janela de oportunidades para a realização de reformas estruturais, para a adoção e medidas de simplificação tributária, de facilitação do comércio e de aperfeiçoamento de mecanismos de atração de investimentos. Mas, sobretudo, o FMI enxerga um bom e necessário momento para que os países efetuem processos de consolidação fiscal.

Essa foi a mensagem mais importante da reunião para o Brasil. De um lado, o FMI ajustou as suas expectativas de crescimento do PIB brasileiro para este ano num nível praticamente igual ao do mercado e do Banco Central: 0,7%. Por outro lado, o Fundo manteve uma perspectiva mais cautelosa para a economia brasileira em 2018, prevendo alta do PIB de 1,5% para o país, enquanto o Banco Central está com projeção maior, de 2,4%, e alguns analistas de mercado já fizeram ajustes para o nível de 3% de crescimento na virada para 2018.

A visão mais conservadora do FMI se deve justamente ao fato de a instituição estar em compasso de espera para ver se o país vai mesmo conseguir aprovar as reformas com impacto fiscal relevante, especialmente a reforma da Previdência. O Fundo vê uma janela importante para o Brasil adotar esse passo adiante, mas aguarda pela conclusão desse processo, o que poderá fazer com que a instituição reveja as expectativas para a economia brasileira já na próxima avaliação, que deverá ser divulgada em janeiro.

Os relatórios do FMI apontaram para a urgência na aprovação de reformas fiscais. No documento “Monitor Fiscal”, o Brasil foi apontado como o país com a mais alta trajetória na dívida bruta num grupo de 40 nações emergentes. Ela chegará a 96,9% do PIB, em 2022. Ao apresentar esse relatório, Victor Gaspar, diretor do Departamento de Assuntos Fiscais do FMI, afirmou que a reforma da Previdência é um “elemento crucial para ancorar os gastos públicos e fazer o teto de gastos se tornar efetivo”.

Na apresentação do relatório “Panorama da Economia Mundial”, Oya Celasun, chefe da Divisão de Estudos Econômicos Mundiais do FMI, afirmou que a perspectiva fiscal do Brasil precisa de mais solidez e que isso seria obtido com a aprovação da reforma da Previdência “num tempo razoável e sem muitas diluições a partir do que foi proposto inicialmente pelo governo”.

Os técnicos do FMI foram ainda bastante cautelosos ao advertir para os riscos que pairam sobre a economia global – justamente aqueles que levariam ao fim dessa janela de oportunidades para a realização de ajustes em vários países. Uma eventual mudança no ritmo da normalização monetária pelo Federal Reserve (o banco central americano) causaria efeitos de contágio sobre vários países, inclusive aos emergentes. Ainda não há sinais de que haverá essa mudança no curto prazo, mesmo com a indefinição da sucessão do Fed – o mandato da presidente Janet Yellen termina em fevereiro, e Donald Trump deverá tomar a decisão sobre quem vai comandar o BC americano nas próximas semanas.

Ao longo da reunião do FMI, o Valor procurou interlocutores americanos e de outros países que estiveram em reuniões com autoridades econômicas dos Estados Unidos, como o secretário do Tesouro, Steven Mnuchin, para saber quais sinalizações eles obtiveram a respeito da sucessão do Fed. A maioria deles relatou que é muito difícil saber qual será a decisão a ser tomada pessoalmente por Trump. Por outro lado, advertiram que o presidente precisará manter uma base sólida para o crescimento econômico que ele gostaria de ter nos Estados Unidos, na faixa de 3% ao ano – enquanto, hoje, as previsões estão um pouco superiores a 2%. Para garantir essa base sólida, o país vai precisar de estabilidade financeira e, neste sentido, a indicação tende a recair sobre pessoas que acreditam na missão e nos compromissos do Fed.