Carlos Alexandre Klomfahs* – Estadão

29 Abril 2018 | 07h00

Ao participar em 25 de abril em São Paulo do evento organizado pelo Estado que debate ‘A Reconstrução do Brasil’, inspirado em duas contribuições finais da jornalista Eliane Cantanhêde que fez a mediação, quero contribuir com o debate arrastando seus desdobramentos para fora do anfiteatro.

No primeiro painel esteve presente o ex-ministro das Relações Exteriores Celso Lafer, o diplomata Rubens Barbosa, presidente do Instituto de Relações Internacionais e Comércio Exterior e Lídia Goldenstein, integrante do Conselho de Comércio Exterior da Fiesp.

Para isso utilizo dois pontos que balizam esse aporte teórico: o papel da iniciativa privada e o da academia no debate público sobre a reconstrução do Brasil.

Entendendo que a academia – incluindo universidades públicas e privadas – deve aproveitar essa crise política que se arrasta há anos e debater tanto internamente em congressos e debates com alunos, comunidade local e docentes, quais os rumos políticos, sociais e econômicos que poderíamos tomar enquanto sociedade, de forma apartidária, quanto externamente, fazendo que do debate saia artigo, recomendação, carta, monção de apoio ou rejeição a adoção de certas políticas econômicas ou sociais, a serem encaminhados tanto as emissoras de TV que debaterão e sabatinarão os presidenciáveis, quanto servir de ferramental teórico para a mobilização da sociedade na cobrança pós-eleição ao presidente eleito.

Também não devemos esquecer que a tríade ensino, pesquisa e extensão, derivados da produção do conhecimento após a capacitação dos alunos – mormente em nível de doutorado quando as teses trazem contribuição inédita para o conhecimento – de per se só faz sentido, quando ou se, adaptados às necessidades da sociedade.

Em princípio a academia deve se abrir para que toda pesquisa realizada seja, por meio do debate político pluralista apartidário, uma forma de estender, difundir e ampliar o conhecimento para a sociedade e dela reconhecer suas necessidades, cumprindo dessa forma sua função social.

É a partir desse profícuo trabalho em conjunto entre estudantes, professores e comunidade local, sem levantar qualquer estandarte de partido político, que a universidade tem a possibilidade de refletir e agir em relação às questões políticas, econômicas e sociais do País.

Já a iniciativa privada tem também um papel assaz relevante seja na parte econômica com investimentos em transportes, energia, telecomunicações e saneamento básico, seja na parte social e ética, especialmente no que tange à responsabilidade social que as empresas adotam como alto nível de governança corporativa, na promoção e no interesse da regularização do lobby, no aumento das medidas de compliance, auditoria externa, adoção de código de ética e conduta em licitações e nas relações com a Administração Pública.

De idêntica forma deve se envolver no debate político pluralista por receber diretamente influência das políticas públicas econômico-social nos três níveis de Governo, suportando a alta carga tributária, trabalhista, previdenciária, as pressões de sindicatos, do mercado de consumo e da concorrência. Assim, sua participação mais legitima suas reivindicações por serem submetidas à sociedade e ao Poder Público.

Contando desse modo com a necessária participação do setor privado nos projetos de infraestrutura para expansão da economia brasileira.

A rigor, pelo lado da iniciativa privada, por abordar temas mais ligados a práxis e ao utilitarismo, ou seja, às necessidades dinâmicas do mercado de trabalho, mercado financeiro, indústria, serviços e agronegócios, sua contribuição fecha o dualismo necessário entre teoria e prática, derivado dos três termos que compõe a dialética de Hegel: tese, antítese e síntese.

Logo, o papel da iniciativa privada e da academia no aprofundamento do debate público legitima, aprofunda e permite uma seleção melhor e mais criteriosa dos rumos que precisamos avançar para o soerguimento da situação político-econômica que nos encontramos.

Portanto, a participação da iniciativa privada e da academia junto com o Poder Público deve ser uma realidade cada vez mais presente nos debates políticos relativos à Reconstrução do Brasil, tanto por aproximar a iniciativa privada do conhecimento acumulado pela academia, investindo mais em pesquisa e tecnologia, quanto a academia nesse espaço criado encontra ótima oportunidade de maiores investimentos em pesquisa aplicada e contribui para melhorar significativamente o aprofundamento do debate público e as soluções complexas e sistemáticas necessárias a proporção do grande desafio posto à porta das eleições de 2018.