Por Rodrigo Rocha e Camila Maia – Valor Econômico

Anunciada após o fechamento do mercado na sexta-feira, a conclusão da primeira fase do processo de revisão tarifária da Sabesp foi bem recebida pelo mercado e pelos analistas ontem, apontando que os 7,89% de ajuste que serão aplicados nas contas a partir de 10 de novembro foram considerados positivos, apesar de abaixo do defendido pela estatal de saneamento.

Em agosto, o relatório técnico preliminar da Agência Reguladora de Saneamento e Energia do Estado de São Paulo (Arsesp), órgão responsável pela revisão da tarifa, indicava um reajuste de 4,4%, bem abaixo dos 10,42% esperados pela companhia.

“Estávamos esperando uma correção ascendente de 2,5 pontos percentuais, então a revisão um pouco mais generosa deve ter um impacto positivo (embora limitado) nas ações”, afirmaram os analistas do Scotiabank em relatório. O ajuste acabou sendo de 3,5 pontos percentuais.

As ações da Sabesp reagiram positivamente ao anúncio mesmo em um dia de queda do Ibovespa. O papel encerrou ontem com alta de 2,07%, a R$ 34,52.

A principal mudança destacada pelos analistas entre o documento preliminar e a decisão final da agência é a da tarifa base utilizada para o cálculo do percentual de reajuste, que caiu de R$ 3,47 por m3 para R$ 3,37/m3.

Quanto maior a diferença da tarifa base para o valor final fixado pela agência, maior o reajuste em termos percentuais. “Apesar a melhora dos números da revisão tarifária, o regulador não corrigiu totalmente a discrepância e a diferença para tarifa média [defendida pela Sabesp] continua”, ponderaram os analistas do UBS. A estatal defendia que sua tarifa atual é de R$ 3,28/m3.

Para o banco Credit Suisse, a principal razão da mudança no percentual foi a Arsesp aceitar o argumento da Sabesp de que o índice de ajuste precisa considerar o nível atual da tarifa em seu denominador, e não apenas a atualização monetária da revisão anterior (de 2013).

Também foram revisados o custo médio ponderado do capital (Wacc, na sigla em inglês), que subiu de 8,01% para 8,11%, e a projeção de despesas e custos operacionais para 2017. “Variáveis como base de ativos, índice de perdas, investimentos, e volumes, ficaram inalterados [em relação a agosto]”, lembrou o BTG Pactual.

O processo de revisão tarifária, que tem um ciclo de quatro anos, ainda tem uma segunda fase, quando deve ser apontado um segundo reajuste. O calendário da Arsesp prevê a conclusão da etapa final em 10 de abril. “Ainda há espaço considerável para mudanças em alguns dos mais importantes parâmetros que definem a tarifa, como base de ativos, volume projetado e despesas operacionais”, escreveram os analistas do Credit Suisse.

Nas contas do Goldman Sachs, a revisão de alguns indicadores pode levar a um ajuste adicional de 10,5% para a Sabesp. Com a conclusão da primeira fase do processo de revisão tarifária, a Sabesp deve abrir espaço para a busca pelo governo estadual de investidores privados dentro do processo de constituição da holding que controlará a estatal de saneamento.

“O tempo é agora o maior obstáculo estadual [para a constituição da holding], dado o calendário das eleições governamentais”, defendeu análise do Itaú BBA.