Por Francisco Góes, César Felício e Cristian Klein – Valor Econômico

08/03/2018 – 05:00

O presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Paulo Rabello de Castro, pode desistir de sua candidatura presidencial pelo PSC e tentar ficar no cargo. Em princípio, Rabello de Castro teria que se desincompatibilizar até o dia 7 de abril para poder concorrer. “O presidente [Michel Temer] me disse que todos os que estejam cogitando concorrer a algum cargo devem mirar o fim de março para se desincompatibilizarem. Vamos ter que ver [como fica a candidatura] até o último dia”, disse Rabello de Castro ao Valor.

Apesar de o cenário sobre a permanência de Rabello no BNDES permanecer incerto, a cadeira do presidente do BNDES já é disputada pelo meio político, e movimenta os bastidores do banco, de onde poderia, eventualmente, sair o substituto de Rabello de Castro. O economista consegue hoje em torno de 1% das intenções de voto.

Presidente nacional do PSC, o pastor Everaldo Dias afirmou ao Valor que vai ter uma conversa na semana que vem para definir os destinos da pré-candidatura do presidente do BNDES à Presidência da República. Rabello de Castro filiou-se ao PSC em 3 de outubro do ano passado – antes estava no Partido Novo, que obteve registro no TSE em 2015 -, mas ainda não se comprometeu totalmente com o projeto presidencial. “Primeiro tem que depender dele. Ele chegar e dizer: ‘Estou saindo do banco para ser candidato’. Depende disso. Só isso”, afirmou Everaldo Dias. O presidente do PSC, que concorreu ao Planalto em 2014, com uma agenda liberal na economia e conservadora nos costumes, disse que o partido terá candidatura própria, independentemente da decisão de Paulo Rabello de Castro.

Rabello de Castro disse que há três fatores que o levam a “repensar” a sua candidatura presidencial. O primeiro deles é o envolvimento da SR Rating, empresa que fundou e da qual é sócio licenciado, na Operação Pausare, da Polícia Federal. A empresa é investigada por ter dado uma nota que seria acima do mínimo necessário para o risco de crédito de um investimento feito pelo Postalis, o fundo de pensão dos Correios. Houve busca e apreensão de documentos em imóveis de Rabello de Castro. Ele afirma que a SR é investigada, mas não está indiciada e nem é ré. Rabello de Castro diz que já apresentou documentos à Polícia Federal para mostrar que sua empresa cumpriu “rigorosamente” com todas as suas obrigações no caso do Postalis.

O segundo motivo para a eventual desistência se relaciona com a possível candidatura à reeleição do presidente Michel Temer. Para Rabello de Castro, seria difícil concorrer contra o atual presidente tendo participado de seu governo. Temer tem negado publicamente que vá concorrer a um novo mandato, mas seus mais próximos assessores o estimulam a lançar-se e uma decisão dever ser tomada apenas em julho. Rabello, porém, terá que decidir seu futuro antes disso. Nos bastidores do BNDES, comenta-se que haveria um compromisso de Rabello de Castro de não concorrer caso Temer se lance à reeleição. O presidente do BNDES negou que tenha tido qualquer conversa nesse sentido. “Eu já disse em entrevista ao rádio que o presidente é meu chefe e por ele tenho carinho e amizade, portanto, se o presidente, eventualmente sair [candidato] eu tenho que rever o meu curso, qualquer que ele seja. Tenho que parar e ver o que vamos fazer porque fazemos parte de um trabalho que precisa prosseguir.” E acrescentou: “Se o presidente nos surpreender vindo a concorrer tenho que, eventualmente, parar e analisar: dá para prosseguir? Vamos nos apoiar? Eu não sou do ramo da política, estamos fazendo um aprendizado.”

A terceira razão se vincula ao próprio BNDES. “Somos 101% BNDES até o último dia, estando no BNDES temos que ser presidente do BNDES. Se dependesse somente do cálculo político, talvez já teria me desligado. Mas há um trabalho ainda a ser feito “, disse Rabello de Castro. O economista assumiu a presidência do banco em maio de 2017 na esteira da crise provocada pela delação da JBS, que envolveu Temer e levou a então presidente do banco, Maria Silvia Bastos Marques, a renunciar. Rabello de Castro era presidente do IBGE e foi indicado para o BNDES horas depois de Maria Silvia entregar o cargo.

Em menos de um ano, Rabello de Castro colecionou enfrentamentos com a área econômica do governo sobre a devolução antecipada de recursos ao Tesouro Nacional. Ao assumir o banco, Rabello de Castro herdou a diretoria de Maria Silvia, com exceções de três diretores que se demitiram. O presidente do BNDES indicou na sequência dois nomes: Carlos Thadeu de Freitas, ex-diretor do Banco Central, e o economista Carlos da Costa. Thadeu é visto internamente no BNDES como candidato de Rabello de Castro na hipótese de a candidatura se confirmar. Já Carlos da Costa é apontado, nos bastidores, como alguém que postula a vaga do atual presidente da instituição. Costa negou que esteja se colocando como sucessor de Rabello de Castro. “Só posso dizer que sou candidato se não tem presidente [no cargo], o que não é o caso.” Costa reconheceu, porém, que é “natural” que algumas pessoas, tanto externas como internas ao banco, o vejam como candidato a suceder Rabello de Castro pelo fato dele ocupar uma diretoria com múltiplas funções (planejamento, crédito, tecnologia da informação e comunicação).