Por Lucas Hirata – Valor Econômico

Além da redução no custo do crédito, as empresas devem colher outro benefício da queda da taxa Selic. O valor cobrado para se proteger de saltos do dólar recuou de maneira significativa desde o começo do afrouxamento monetário, há cerca de um ano, abrindo espaço para mais companhias buscarem hedge.

Com o juro em 8,25% ao ano, uma operação de hedge cambial para 12 meses saía a 4,69% ao ano, segundo cotação da última quinta-feira, sem considerar o spread cobrado adicionalmente conforme o tipo de operação e o risco da companhia.

O custo é pouco menos da metade da taxa de 10,29% cobrada no fim de setembro de 2016, quando a Selic ainda estava em 14,25% ao ano.

Isso significa que, com o dólar no patamar atual de R$ 3,18, uma operação de hedge já vale a pena se a moeda americana superar o nível de R$ 3,33 daqui a um ano, variação equivalente à taxa de 4,69% do hedge. E em linha com a esperada segundo a mediana das projeções dos analistas no boletim Focus para outubro de 2018, que colocam o dólar a R$ 3,28.

O custo do hedge é resultado da diferença entre o juro prefixado para o período (DI) e o cupom cambial (o custo de se emprestar em dólares no Brasil) – valor que vem diminuindo por causa do afrouxamento monetário e da expectativa de que a Selic caia mais, ficando até abaixo de 7%.

Para o diretor de tesouraria do Santander, Luiz Masagão, o custo do hedge por aqui era “proibitivo” até alguns anos atrás e atualmente está até mais barato que em economias com características semelhantes. No México, compara, o custo para o mesmo intervalo de um ano é maior que 5%. “Isso pode gerar uma mudança na dinâmica de mercado principalmente para importadores, que consomem muitos insumos de fora”, diz.

O chefe de estruturação e vendas de derivativos do BofA Merrill Lynch, Nuno Martins, explica que o hedge de um ano ou até um pouco além está mais ligado às operações das empresas. Por isso, conforme a atividade econômica no país se recupera, “vamos ver aumento do volume de hedge operacional que acompanha o incremento de importações”, diz. E o próprio acesso à proteção cambial contribui para a atividade, potencializando o efeito da queda de juros. “O custo do hedge mais baixo ajuda a viabilizar mais projetos, investimentos e aumento da utilização da capacidade das companhias”, diz o especialista. “Corrói menos a despesa financeira do ponto de vista operacional”, acrescenta.

As companhias de porte menor tendem a ser as mais beneficiadas. O diretor de tesouraria do Bradesco, Paulo Eduardo Waack, já nota a atuação de maneira mais intensa de companhias médias e até pequenas no mercado de hedge, melhorando suas políticas de governança. “A queda da diferença entre o preço que conseguem para fazer o hedge e o valor do dólar no mercado à vista permite criar um hábito de buscar mecanismos de proteção em empresas menores”, aponta. “É uma dinâmica mais saudável para o mercado.”

Mas, por ora, não se observa um salto da demanda por instrumentos de proteção cambial. Isso depende ainda de uma mudança de cenário, principalmente porque as grandes companhias já têm políticas bem definidas de hedge, diz o chefe de vendas da mesa de renda fixa para clientes corporativos do BNP Paribas no Brasil, Sergio Machado. “E por enquanto, não parece que vai acontecer de maneira abrupta.”

De acordo com dados da B3, a média diária do volume de compra de dólares por empresas em operações de termo de moeda estava em US$ 433,752 milhões no mês passado até dia o 22. O montante aponta uma alta de 15,84% em relação ao valor observado nos 15 dias úteis de setembro do ano passado. “Os números não mostraram nenhum movimento significativo, mas [a queda do custo] pode fazer a diferença na decisão sobre operações mais longas. Quando o custo é alto, podem preferir trabalhar em prazos mais curtos”, diz o superintendente de produtos da B3, Fabio Zenaro.

O barateamento do hedge — visto como tão estrutural quanto a própria baixa de juros – é considerado uma boa notícia e abre espaço para que as empresas venham a acessar esse mercado. E a demanda pelo instrumento deve crescer, entre outras razões, porque o custo elevado gerava uma “demanda reprimida” no mercado, aponta o diretor de câmbio do Banco Paulista, Tarcísio Rodrigues. Há ainda espaço para novas empresas adotarem ferramentas de proteção. “As empresas exploram cada vez mais operações em moeda estrangeira e, ao mesmo tempo, há sempre uma preocupação com o que pode acontecer no país”, acrescenta.

Profissionais consideram que a queda no custo do hedge cambial é consistente, mas isso dependerá da manutenção da Selic em níveis baixos. Por ora, o mercado vê que o juro pode cair mais e permanecer nesses níveis por um período prolongado.

Para o diretor de mesas e produtos do Itaú BBA, Eric Altafim, em qualquer ambiente ou cenário, uma boa gestão de risco deve ser o principal fator de decisão, e não o nível da moeda ou o custo pelo hedge. Ele ressalta, no entanto, que o momento de queda no diferencial de juros “pode ser uma boa oportunidade para as empresas implementarem mecanismos de gestão de risco”. Isso se aplica “especialmente para clientes com passivos cambiais em um ambiente de incertezas como estamos vendo agora”.