Por Raphael Di Cunto, Marcelo Ribeiro, Edna Simão, Andrea Jubé, Fabio Graner e Ricardo Mendonça – Valor Econômico

Longe dos 308 votos necessários para aprovar a reforma da Previdência na Câmara, o presidente Michel Temer cancelou viagem ao Rio Grande do Sul para manter uma agenda de articulações e prometeu liberar R$ 3 bilhões para prefeituras, se a proposta for aprovada. Em outra frente, o PSDB, criticado por divulgar o apoio à reforma sem entregar os votos, manteve reunião para amanhã para debater se fecha questão sobre o projeto.

Apesar de todos os líderes dos partidos da base afirmarem que o apoio à reforma é mínimo na Câmara por causa do período eleitoral, o governo tenta manter uma agenda de articulações para não deixar o assunto morrer. A avaliação é que aceitar a derrota do projeto provocará consequências na economia e freará a retomada do crescimento.

Em reunião com parlamentares, o ministro do Planejamento, Dyogo Oliveira, traçou esse cenário “amedrontador” para tentar convencer os deputados. Com a reforma, disse, o desemprego, hoje na casa dos 12%, cairia para algo em torno de 8% e 9% no meio do ano que vem. Sem a reforma, Dyogo teria falado em queda de 2,8% do PIB em dois anos.

Temer convocou ontem, de última hora, reunião com ministros para discutir a liberação de uma verba extra de R$ 3 bilhões no orçamento de 2018 para as prefeituras caso a reforma seja aprovada. A ideia é que esse aceno faça os prefeitos pressionarem seus deputados a aprovarem o projeto. Além disso, governistas discutiram em jantar condicionar a votação de projetos de interesse dos governadores ao apoio à reforma da Previdência.

O presidente ainda cancelou viagem que faria na quinta-feira e marcou para a amanhã à noite novo encontro com os partidos da base para avaliar se alcançou os votos necessários.

A maioria dos líderes se mantém reticente e diz que as articulações não serão suficientes enquanto a população não se convencer de que a reforma é boa e não tira direitos. Sem isso, não haveria chance de votar o texto antes das eleições.

Cobrado pelo ministro da Fazenda, Henrique Meirelles (PSD), a dar apoio mais expressivo a favor do projeto, o PSDB reagiu com críticas ao titular da economia, que não teria apoio nem do próprio partido, e manteve para amanhã a reunião de sua Executiva nacional, junto com as bancadas na Câmara e Senado, para decidir sobre o fechamento de questão em torno do projeto.

Fechar questão é um instrumento usado por partidos em projetos mais simbólicos em que a maioria da legenda decide orientar a favor ou contra uma proposta em discussão no Congresso e quem contrariar esse posicionamento pode ser punido até com expulsão. A reunião foi confirmada à noite pela assessoria do PSDB, embora, durante o dia, tucanos tenham defendido o adiamento já que o projeto não será mais votado esta semana.

Secretário-geral do PSDB e braço-direito do governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, o deputado federal Silvio Torres (SP) defendeu que seria mais “adequado” aguardar a posse da nova direção, que ocorrerá no sábado, com Alckmin eleito presidente. Líder do partido na Câmara, o deputado Ricardo Tripoli (SP) alertou que a maioria da bancada não quer votar a proposta – o que pode inviabilizar o fechamento de questão. “Hoje tem em torno de 15 e 20 votos no PSDB dos 46. O restante não quer mesmo votar”, disse.

Tripoli, contudo, fez questão de rebater as declarações de Meirelles, que considerou com viés eleitoral para tentar atingir Alckmin – ambos pretendem concorrer à Presidência em 2018. “O PSDB deu mais votos para a reforma trabalhista e terceirização que o PSD, que é o partido do Meirelles. Ele primeiro garanta os votos no partido dele para depois cobrar dos outros”, atacou.

As declarações geraram críticas até no PSD. Vice-líder da sigla na Câmara, o deputado Domingos Neto (CE) disse que, como o ministro não articula com os deputados, só com o mercado, deveria restringir suas falas à economia. “Toda vez que faz comentário político ele se arrisca, fala do que não conhece”, disse.

Afirmou, porém, que os tucanos não podem jogar a responsabilidade nos outros. “Se o PSD ou o PMDB estão divididos têm suas razões. Mas nenhum deles saiu bradando que era o ‘partido das reformas’, que vai votar com ou sem ministério. Cada bancada tem sua realidade e a nossa não sai prometendo o que não tem.”

Um dos que prometia fechar questão pela reforma, contudo, decidiu não fazer reunião. O presidente do PTB, Roberto Jefferson, divulgou nota ontem dizendo que o partido encaminha o voto favorável à reforma. Nos bastidores, ele ameaça cortar verbas do fundo eleitoral de quem não seguir a orientação, mas, sem o fechamento de questão, não poderá expulsar ninguém.