Por Roberto Rockmann – Valor Econômico

05/12/2018 – 05:00

O ciclo de privatizações e concessões que União e governos estaduais deverão lançar nos próximos meses abre oportunidades para as empresas chinesas aumentarem sua presença no setor de infraestrutura brasileiro. Os chineses também começam a analisar mais projetos “greenfield” diante da demanda do Brasil na área. Essa nova fase poderá acontecer com presença mais firme do mercado de capitais diante da crise fiscal e da nova postura do BNDES, que deve reduzir o financiamento aos projetos.

A gigante chinesa CCCC adquiriu há dois anos a Concremat, criando sua plataforma de negócios na América do Sul, de olho em oportunidades na área de transportes. A empresa está construindo um Terminal de Uso Privativo em São Luís (MA).

Será o primeiro investimento no setor portuário brasileiro e se trata de um projeto “greenfield”. A obra abrange uma área de dois milhões de metros quadrados onde serão construídos seis berços de atracação, sendo quatro na primeira fase.

A previsão é de que a primeira fase seja concluída em quatro anos. O movimento de cargas será de 7 milhões de toneladas de grãos por ano, 3 milhões de toneladas de fertilizantes anuais, 1,5 milhão de toneladas de carga geral por ano e 2,5 milhões de metros cúbicos de líquidos anuais. A CCCC estuda novos investimentos no Brasil, como participação em uma PPP de uma ponte no Nordeste e projetos ferroviários licitados pela União, informou Chang Yunbo, presidente da CCCC na América do Sul.

Yunbo afirmou que o país precisará trabalhar em projetos “greenfield” no setor de infraestrutura para reduzir os gargalos que limitam a competitividade da economia. Os investidores têm preferido ativos já operacionais em que o risco de não conclusão do empreendimento inexiste. Em projetos que terão de sair do zero, os governos precisariam adotar uma nova postura, segundo o executivo chinês, principalmente na área de transportes, seja com subsídios, seja com maior alocação de riscos no ente público. “Concessão não funciona sempre, há outros modelos que podem ser testados como Parcerias Público-Privadas, não se pode deixar o risco todo alocado no investidor como em alguns exemplos de ferrovias.”

O presidente da CTG Brasil, Li Yinsheng, ressaltou que a empresa elegeu o país como uma de suas prioridades há três anos. “Os 200 milhões de consumidores criam demanda para o futuro, o que nos enseja otimismo, e os projetos ‘greenfield’ serão mais necessários”, afirmou. Em energia, frisou que a regulação contribui com investimento, mas é necessário algum aperfeiçoamento, como resolução à exposição ao déficit hídrico de investidores no mercado livre.

Sempre que a geração das hidrelétricas, fator conhecido como GFS (Generation Scaling Factor), não corresponde a 100% do volume previsto pelo sistema elétrico em determinado mês, as usinas ficam expostas, o que tem ocorrido com frequência desde 2013. Esse problema trava mais de R$ 8 bilhões em liquidação no mercado livre e é o mais judicializado assunto do setor elétrico. O governo federal tentou resolver o impasse em dois projetos de lei, concedendo extensão do prazo de concessão de usinas afetadas para compensar as perdas financeiras. Mas foi derrotado no Congresso.

Para o diretor de operações estruturadas e mercado de dívida do Santander, Sandro Marcondes, o ciclo do setor de infraestrutura tende a ser positivo nos próximos cinco a dez anos, com o governo federal buscando criar um fluxo estável de projetos que deverão ser licitados nas áreas de transportes e energia. “Esse fluxo estável irá atrair investidores, em paralelo há projetos greenfield em óleo e gás e energia elétrica que têm atraído empresas. O mercado de capitais e os bancos estão de observando as oportunidades de financiamento”, disse. Há também um desafio regulatório em alguns segmentos, como o de saneamento. Uma medida provisória com nova regulação sobre a área, que facilita o investimento privado, irá expirar nesse governo, mas poderá ser rediscutida no governo Bolsonaro.