Por Rodrigo Rocha e Renato Rostás – Valor Econômico

10/04/2018 – 05:00

A contaminação ou não dos rios e solos é apenas uma parte dos problemas enfrentados por Barcarena. Ranking da Abes, associação de engenheiros de saneamento, colocou o município como o pior do país – entre os com mais de 100 mil habitantes – em universalização de água e esgoto.

Desde 2014, a concessão está concedida à Águas de São Francisco, da Aegea – uma das principais operadoras privadas do setor. Renato Medicis, presidente da empresa, diz que a geografia da região dificulta uma operação centralizada, com represa, estação de tratamento e rede de distribuição. Dessa forma, existem 22 poços profundos de captação de água.

Segundo o executivo, hoje a cobertura de água na zona urbana é de 52% – o dobro do registrado pelo Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento (SNIS) e base para o ranking da Abes. A situação era calamitosa: o município obteve 87,2 pontos. O penúltimo colocado, Porto Velho (RO), teve 136,49. O líder foi Piracicaba (SP), com 499,9 pontos.

Não é por falta de recursos que as condições são adversas. Em 2017, Barcarena teve superávit primário de R$ 43,5 milhões, ante déficit de R$ 6,5 milhões do ano anterior. Apesar de as receitas terem subido 20%, para R$ 359,7 milhões – principalmente por conta do repasse de R$ 94,3 milhões do ICMS paraense -, os investimentos cresceram 9,5%, para R$ 25,2 milhões.

A rede está preparada para fornecer água tratada para metade da população da cidade, mas nem todos os possíveis beneficiados estão conectados. Parte da população local ainda capta água a partir de poços artesianos, mais rasos e suscetíveis à contaminação. “Tenho disponibilidade de 52% de cobertura, 15 mil residências, mas só tenho conectadas 9,4 mil. Esse é o grande desafio, apresentar o valor da água tratada”, afirma Medicis.

A expectativa de investimentos da Águas de São Francisco nos próximos 30 anos é de R$ 190 milhões. O contrato prevê que a zona urbana da cidade conte com acesso universal à água tratada em 2021 e de coleta e tratamento de esgotos em 2037.

Barcarena tem uma média de 180 internações médicas por doenças causadas pela falta de saneamento, a cada 100 mil habitantes. Para efeito de comparação, Franca, das melhores colocadas no ranking, tem 10 internações a cada 100 mil habitantes.

Roberval Tavares, presidente da Abes, aponta omissão do poder público. “Saneamento não é tratado no Brasil como prioridade de Estado. Depende da prioridade do governante de ocasião”, diz. Para ele, carece de linhas de financiamento e profissionalização da gestão pública e privada.

Procurado, o prefeito de Barcarena, Antônio Carlos Vilaça, não respondeu aos questionamentos.