Por Rodrigo Rocha – Valor Econômico

05/07/2018 – 05:00

Um dos setores da infraestrutura que mais sofre com a falta de apoio, o saneamento começa a avançar no uso da tecnologia. Internet das coisas, robôs e realidade aumentada já surgem como soluções para acelerar o avanço do setor em um momento de escassez de recursos.

Seja para facilitar trocas de tubulações, reduzir perdas ou fiscalizar possíveis fraudes, a tecnologia entra como ferramenta importante para redução de custos e, consequentemente, ganho de margens.

Principal companhia do setor em número de clientes, a paulista Sabesp realizou há duas semanas um evento para trocas de informações sobre inovação entre suas unidades na região metropolitana de São Paulo. “Somos uma empresa regulada, com ações na bolsa, e já de longa data lutamos para reduzir custo, melhorar a prestação de serviços, e por isso buscamos maneiras de reduzir perdas e melhorar relacionamento com clientes”, afirma Marcello Xavier Veiga, superintendente de planejamento e desenvolvimento da regional metropolitana da Sabesp.

Um dos projetos mais recentes da Sabesp envolve a substituição dos hidrômetros de um grupo de grandes consumidores para um modelo com monitoramento e envio de dados de consumo em tempo real. As informações captadas são utilizadas para construir uma base de dados em busca de possíveis fraudes. Inicialmente instalados em 500 clientes, a intenção é alcançar os 100 mil maiores consumidores, que representam 45% do faturamento da Sabesp na Grande São Paulo.

Além da redução de perdas e fraudes, a companhia também investe em projetos de aumento de eficiência. Um dos exemplos citados pela estatal é a mini usina hidrelétrica que aproveita o fluxo de água bombeada das estações de tratamento para produção de energia. A estatal paulista utiliza ainda um “carro-robô” que vistoria internamente tubulações de esgoto cujas dimensões são inacessíveis e muitas vezes insalubres para os funcionários. O equipamento, além de investigar possíveis obstruções, também aponta problemas de estrutura da rede coletora.

Outro sistema utilizado no subterrâneo é o “pipe bursting”, em que uma broca tritura tubulações antigas de ferro e as substitui automaticamente por tubos de polietileno de alta densidade, sem a necessidade de abertura de valas. Em alguns bairros de São Paulo, a tecnologia é utilizada para substituir tubulações com mais de 100 anos.

A Imagem, companhia de tecnologia que iniciou suas operações com o fornecimento de serviços de georreferenciamento, vê o uso de realidade aumentada e “machine learning” como tendência para acelerar obras e ações para redução de perdas.

Machine learning é a utilização de inteligência artificial em uma ampla base de dados para reconhecimento de padrões.

“Não devemos nada em relação à tecnologia que é utilizada no exterior”, afirma Formicola, diretor da Aquamec.

“O uso de realidade aumentada serve para identificar qual tubulação tenho sob o solo e se há alguma interferência na hora de fazer uma perfuração. Se está cruzando alguma rede de gás, de eletricidade, de telecomunicações. Dessa forma, tenho maior cuidado na hora de executar a manutenção”, afirma Leandro Moreira, que comanda a divisão de saneamento da Imagem. Uma companhia citada pelo executivo que utiliza o serviço é a Caesb, do Distrito Federal. A Sabesp usa tecnologia de realidade aumentada da Voith e da Microsoft para manutenção de maquinário.

No caso do “machine learning”, a ampla base de dados aponta possíveis comportamentos anormais de consumo, tendências de pagamentos e avalia questões de cortes de fornecimento.

Além de investir diretamente em inovação, algumas empresas também buscam novas ideias que possam incorporar à sua estrutura com a ajuda de startups.

A Iguá Saneamento, antiga CAB Ambiental, se associou à aceleradora de negócios Orgânica para procurar possíveis adições à sua operação, criando o Iguá Lab. “O objetivo do programa é atrair startups que auxiliem a Iguá na condução de um processo de transformação digital e de quebra de paradigmas, trazendo boas práticas de gestão, tecnologia e cultura ágil”, explica Pedro Paulo Moraes, sócio da Orgânica. A aceleradora busca iniciativas que possam ajudar na engenharia, nos processos de negócios, na gestão, nas finanças e no relacionamento com o cliente.

Na parte de equipamentos, a Aquamec licencia e fabrica produtos de 48 empresas estrangeiras, e atua principalmente na parte de descontaminação de resíduos e tratamento de água e esgoto. A companhia começou a negociar contratos por eficiência, ou seja, em que o pagamento do equipamento se dá pela economia gerada para o cliente.

“O cliente nos paga de acordo com parâmetros de desempenho. Temos contratos dessa natureza tanto no industrial como fornecimento de água para saneamento municipal”, explica Marco Formicola, diretor executivo da Aquamec.

As soluções, atendem a necessidades não apenas das empresas de saneamento, mas também da indústria e para situações emergenciais, como vazamentos de mineradoras e petrolíferas.

“Não devemos nada em relação à tecnologia de saneamento que é utilizada no exterior. Eu diria que alguém que hoje está na primeira linha tecnológica obviamente tem interesse no Brasil, até mesmo pelo próprio tamanho da economia”, ressalta Formicola, da Aquamec.