Por Juliana Machado, Victor Aguiar e Ivan Ryngelblum – Valor Econômico

11/05/2018 – 05:00

Depois de quatro anos em que viu seu patrimônio ser corroído pelos efeitos da Lava-Jato, a P etrobras voltou a ser a empresa mais valiosa da bolsa. O valor de mercado da companhia ultrapassou ontem o da fabricante de bebidas Ambev, que era, até então, a empresa com maior valor absoluto da B3. A escalada recente dos papéis da estatal, em meio a um balanço positivo e com o petróleo e o dólar em alta, foi tão importante que o Ibovespa tocou ontem o patamar dos 86 mil pontos – nível perdido no começo do mês.

A Petrobras fechou o pregão com um valor de mercado de R$ 358,9 bilhões, 4% a mais do que a Ambev, que vale R$ 342,7 bilhões em bolsa. A estatal era líder em termos de valor de mercado até setembro de 2014, antes da Operação Lava-Jato atingir em cheio o seu balanço. Em apenas três pregões, depois da publicação dos dados do primeiro trimestre deste ano, o ganho na capitalização de mercado foi de R$ 48 bilhões.

A Petrobras mais uma vez foi destaque da bolsa brasileira: o giro da ação preferencial (PN) da companhia, de R$ 3,26 bilhões, equivale, sozinha, a 27% do giro do Ibovespa ontem, de R$ 12 bilhões. A ON da Petrobras teve também intenso volume no dia, de R$ 603,5 milhões. Para efeitos de comparação, o giro financeiro médio da PN da Petrobras por pregão neste ano, até 4 de maio, era de R$ 668 milhões, ou 9,8% do volume médio do Ibovespa no mesmo intervalo, de R$ 6,83 bilhões.

O movimento da Petrobras, acompanhado de forte volume, impulsiona a bolsa porque a PN tem 7,326% de peso no Ibovespa, enquanto a ON uma participação de 4,494%. O principal índice da bolsa encerrou ontem com alta de 1,89%, aos 85.861 pontos – mas chegou a tocar o nível dos 86 mil pontos, ao ir à máxima de 86.201 pontos. No acumulado do ano, até ontem, a PN sobe 59% e a ON tem valorização de 71%; o Ibovespa avança 12,4% em 2018.

O destaque da Petrobras foi tamanho nos últimos dias que até mesmo no exterior a estatal contou com a forte entrada dos estrangeiros. A estatal ficou, em volume financeiro, entre as 20 ações mais negociadas de toda a bolsa de valores de Nova York (Nyse), numa lista que conta com gigantes do setor de petróleo, como Exxon Mobil e Chevron. O recibo de ação (ADR) ON da Petrobras movimentou US$ 656,2 milhões, enquanto Exxon teve um giro de US$ 1,44 bilhão; e a Chevron de US$ 701,3 milhões no dia.

A Petrobras foi, ainda, um destaque na bolsa americana em número de ações negociadas – neste caso, a estatal ficou em terceiro lugar, atrás apenas da Nabors Industries e do Bank of America Merrill Lynch (BofA). No fechamento, o ADR da ação ordinária subiu 7,14%, a US$ 16,21, entre os destaques de todas as ações brasileiras negociadas lá fora.

As ações da Petrobras ainda têm mais para subir com o petróleo e, principalmente, com o novo preço do dólar. Se o ritmo eufórico continuar, no entanto, isso pode representar a necessidade de reduzir a exposição à companhia, e não aumentar, afirma um gestor que prefere não ser identificado.

Na gestora em que atua, especializada em fundos de investimento no Brasil e no exterior, o interlocutor diz que a Petrobras já é parte do portfólio e que a exposição não aumentou recentemente. “Já estávamos comprados na ação porque tentamos antecipar o desempenho, e nossa posição já tem o tamanho que gostaríamos”, diz a fonte. “Inclusive, se o papel continuar andando muito, vamos reduzir a exposição, mas por enquanto não vamos vender.”

Para o gestor, o forte interesse pela empresa ganhou mais força agora, mas essa já era uma opção importante de investimento pela perspectiva operacional forte e pelo trabalho do presidente, Pedro Parente, no comando.

O interlocutor calcula que o lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda, na sigla em inglês) ajustado da companhia, de R$ 25,6 bilhões no primeiro trimestre, poderia ser cerca de 40% maior se os preços do dólar e do petróleo estivessem no nível em que estão atualmente. “Então, é claramente o momento de ter Petrobras no portfólio”, diz.