Por Rafael Moro Martins – Valor Econômico

A Petrobras recebeu, ontem, em Curitiba, em evento do Ministério Público Federal paranaense, a devolução de R$ 654 milhões fruto das investigações de pagamentos de propinas e de corrupção realizadas pela Operação Lava-Jato. Em discursos, o presidente da estatal, Pedro Parente, destacou, mais uma vez, que a companhia “foi o tempo todo prejudicada pela desonestidade de alguns poucos executivos, em conluio com empresas igualmente desonestas e maus políticos”.

O executivo, há um ano e meio no cargo, enfatizou que “diferentemente de outras empresas que se envolveram em escândalos de corrupção, a Petrobras não se beneficiou de nenhum novo contrato, nenhuma nova obra, não teve qualquer vantagem com esse processo criminoso”.

O evento contou com a presença de procuradores e delegados que formaram a força-tarefa da Lava-Jato. Parente reiterou, que a Petrobras foi “a principal vítima do que foi um gigantesco esquema de desvio de recursos públicos”.

“Como vítimas, não podemos deixar de empenhar nosso absoluto e integral apoio à operação Lava-Jato”, acrescentou.

Segundo afirmou, os resultados já alcançados nessa investigação contribuem decisivamente para construir um país muito melhor”, disse o presidente da petrolífera.

Os R$ 654 milhões devolvidos ontem à estatal somam-se a outros R$ 821 milhões que a Petrobras já tinha recebido da Lava-Jato desde maio de 2015. Trata-se da décima devolução de recursos desde o início da operação. O dinheiro entregue hoje é fruto de cinco acordos de leniência – com Camargo Corrêa, Andrade Gutierrez, Braskem, Carioca Engenharia e Setal Óleo e Gás – e 36 de colaboração premiada.

Segundo a Lava-Jato, a Petrobras já recebeu R$ 1,47 bilhão desde o início da operação, em valores corrigidos. Mas o montante, conforme o MPF, representa apenas 13% dos R$ 10,8 bilhões previstos em 163 acordos de delação premiada e dez de leniência firmados desde março de 2014.

“É um valor pequeno perto do que está por vir, se as investigações puderem prosseguir. Para que outras devoluções aconteçam, é preciso preservar e melhorar o ambiente. É preciso que o Congresso e o Judiciário preservem o bom funcionamento de delações e leniências, que permitiram a devolução”, disse o procurador Deltan Dallagnol, coordenador da força-tarefa. “Existem acordos em negociação que envolvem cifras superiores a R$ 600 milhões. E, sem eles, estaríamos processando crimes de corrupção de apenas R$ 26 milhões.”

Não há destino certo para os R$ 654 milhões, disse Parente “A companhia tem condições de ampliar sua ação direta ou a área de investimento social.” Ele citou, como exemplo, projetos de responsabilidade sócio-ambiental e uma parceria da estatal com a Unesco para “treinamento em ética e compliance para parceiros do terceiro setor”.