Por Luiz Henrique Mendes e Graziella Valenti – Valor Econômico

18/04/2018 – 19h40

SÃO PAULO – O presidente da Petrobras, Pedro Parente, aceitou o convite para presidir o conselho de administração da BRF em substituição a Abilio Diniz a partir da assembleia de acionistas, em 26 de abril. O consenso em torno do nome de Parente foi antecipado pelo Valor. A escolha tem por objetivo por fim ao conflito societário na BRF envolvendo Abilio e os fundos de pensão Petros e Previ.

A expectativa de quem acompanha a disputa é que Parente confira credibilidade à companhia brasileira, “zerando” a disputa entre os acionistas e concentrando as atenções na recuperação da empresa de alimentos, que amargou prejuízo líquido de R$ 1,1 bilhão no ano passado.

Pelos planos, o CEO, José Aurélio Drummond, deverá seguir à frente da empresa. Há confiança de que, sob Parente, o executivo teria tranquilidade para implementar as mudanças que pretende fazer para recuperar a BRF.

No curto prazo, a BRF terá de lidar com as dificuldades operacionais decorrentes do provável embargo da União Europeia. Mas o entendimento é que a empresa tem liquidez para atravessar a turbulência.

No longo prazo, o desafio é dar fluidez à longa cadeia agropecuária e industrial da companhia, o que levará de dois a três anos, segundo executivos do setor. A avaliação é que, durante a gestão de Pedro Faria — sócio-fundador da gestora Tarpon —, a BRF perdeu a capacidade de gerenciar sua cadeia produtiva, perdendo diferenciais competitivos em áreas-chave como a compra de grãos.

Disponibilidade

Para assumir a presidência do conselho de administração da BRF, Parente vai deixar a liderança do conselho da B3. A informação também foi adiantada pelo Valor. O mandato do executivo iria até abril de 2019, na assembleia geral de aprovação das contas do balanço de 2018.

Parente, contudo, vai permanecer à frente da presidência executiva da Petrobras, maior estatal do país e uma das principais blue chips do mercado brasileiro, cargo que assumiu em 2016.

A divulgação, pelo Valor PRO — serviço de informações em tempo real do Valor —, da indicação de Parente como novo de consenso para solucionar o conflito societário da BRF deixou os principais atores do caso preocupados com questões diplomáticas e políticas ligadas ao executivo.

Acionistas de todos os lados da BRF — Abilio Diniz, famílias herdeiras da Sadia e fundações — julgam que Parente é o nome que a companhia precisa para encerrar o clima de discórdia e iniciar uma temporada de consenso para transformação da empresa na governança e na definição da estratégia operacional.

Perfil

Antes da estatal, Parente, 65 anos, presidiu a Bunge Brasil de janeiro de 2010 a abril de 2014. De 2003 a 2009, foi vicepresidente do Grupo RBS.

O executivo iniciou a carreira no serviço público no Banco do Brasil em 1971. Dois anos depois, foi transferido para o Banco Central. Também foi consultor do Fundo Monetário Internacional (FMI) e de instituições públicas no País, incluindo Secretarias de Estado e a Assembleia Nacional Constituinte de 1988. Atuou em diversos cargos na área econômica do Governo.

Foi Ministro de Estado (1999-2002), tendo sido o coordenador da equipe de transição do Governo do Presidente Fernando Henrique Cardoso para o Presidente Lula. Neste período, também presidiu a Câmara de Gestão da Crise de Energia (2001- 2002) durante a crise do racionamento.

Petrobras

A Petrobras afirmou que as atribuições de Parente como presidente da estatal não sofrerão qualquer mudança caso o executivo assuma o conselho de administração da BRF.

Em comunicado, a Petrobras lembra que, conforme entendimento entre o executivo e a estatal, ele pode participar do conselho de empresas fora do sistema Petrobras, desde que não exista conflito estrutural de interesses.

Confirmação

Nesta noite, em nota, Parente confirmou que aceitou o convite. Confira a íntegra:

“O Sr. Pedro Parente comunica que aceitou hoje o convite formulado por acionistas detentores de posições acionárias relevantes da empresa BRF S.A. para que seu nome seja submetido à Assembleia Geral de Acionistas que será realizada no próximo dia 26, integrando o Conselho de Administração na qualidade de Presidente.

Caso se confirme a sua eleição, o Sr. Pedro Parente apresentará pedido de renúncia à posição de Presidente do Conselho da B3, em atendimento ao acordo que foi feito com o Conselho de Administração da Petrobras quando aceitou convite para ser o Presidente da Companhia. Segundo o referido acordo, o Sr. Pedro Parente pode participar de Conselho de Administração de uma única empresa não integrante do sistema Petrobras, desde que, conforme o seu Estatuto, não exista conflito estrutural de interesses.

Como informado em nota da Petrobras desta data, não haverá qualquer mudança no exercício de sua função de Presidente desta empresa.“

(Colaborou Victor Aguiar, de São Paulo)