Por Luciano Máximo – Valor Econômico

Pedro Wongtschowski, presidente do Iedi: “Há ainda muita capacidade ociosa”

A indústria brasileira só terá recuperação mais consistente, com retomada de investimentos e redução da capacidade ociosa, a partir de 2019, depois do processo eleitoral do ano que vem. A opinião é compartilhada pelo presidente do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento (Iedi) e vice-presidente do conselho de administração do grupo Ultra, Pedro Wongtschowski, e Luciano Coutinho, ex-presidente do BNDES, que participaram em São Paulo de um evento promovido pela Confederação Nacional da Indústria (CNI).

Mesmo com elevação de 1,5% no acumulado deste ano até agosto, a produção industrial não empolga economistas. Para Wongtschowski, a recuperação ao longo do ano é lenta demais, motivada principalmente por uma melhora genérica do consumo. “Há ainda muita capacidade ociosa. Um novo ciclo de investimentos ainda vai demorar um pouco até que as condições macroeconômicas se estabilizem e até que essa capacidade ociosa seja preenchida”, avalia o executivo, associando essa potencial melhora a boas notícias na política.

“Isso depende de estabilidade política. Portanto, não vamos ver acontecer antes de um novo governo, que tomará posse em 2019. Antes disso não vamos ver um novo fluxo de investimentos no setor industrial”, diz o presidente do Iedi.

Coutinho enxerga “pequenos movimentos de recuperação” concentrados em poucos segmentos, graças à melhoria do consumo e das exportações. “O que temos visto é um movimento meio errático. Ainda não está firmado um processo de recuperação da indústria de maneira efetiva, ainda estamos patinando. Parou de piorar, a produção oscila com ligeira tendência a melhorar, mas estamos longe de uma plena recuperação.”

Para o ex-presidente do BNDES, é ainda mais difícil prever a volta do investimento industrial no país. “Aí é a história do ovo e da galinha. Para reduzir rapidamente a ociosidade a demanda seria preciso crescer rápido. Como não há expectativa de a demanda crescer tão rapidamente, então temos um processo de digestão da capacidade ociosa. Eu só vejo recuperação intensa de investimentos para depois de 2019. Isso dependerá de uma mudança política, de um novo governo, cujo perfil nós não sabemos qual será. Então há muita incerteza ainda no mapa.”

Tanto Coutinho como Wongtschowski demonstram insatisfação com a atual taxa de câmbio, de cerca de R$ 3,15 para cada US$ 1, como ponto positivo para ajudar a recuperação industrial. “Não podemos ter apreciação cambial sistemática. A concorrência internacional é e continuará muito acirrada, e não dá para brincar com câmbio. Se o processo de redução de juro continuar e se firmar pode ser um bom contraponto para mitigar um pouco a apreciação cambial”, opina Coutinho. “A indústria se adapta ao câmbio em vigor, mas o real está um pouco sobrevalorizado”, completa Wongtschowski.

David Kupfer, professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (URFJ), pondera que a produção industrial brasileira neste ano mais oscila que se recupera, o que ele chama de movimento estrutural normal, considerando que pouco tempo se passou desde o fim da recessão econômica.

“A indústria está demorando para se recuperar porque a renda está demorando a voltar. Além disso, a economia apenas saiu de uma recessão profunda e apresenta agora um quadro de estagnação. Não está caindo, mas também não está subindo. Enquanto a demanda efetiva não retornar, dificilmente a indústria vai sair dessa trajetória de oscilação”, prevê Kupfer.

Segundo ele, uma saída para esse quadro encalacrado da indústria brasileira seria buscar um “ganho espetacular de competitividade” gerado por redução de custos. “Isso geraria substituições de importações, e a indústria passaria a conquistar mercados internacionais numa taxa rápida, gerando capacidade de crescimento ligada ao setor externo. Mas ninguém crê que esse tipo de condição está sendo criada, nem de diminuição de custo de produção quanto mais de uma grande resposta em eficiência”, diz Kupfer, acrescentando que o câmbio poderia ajudar o setor via alinhamento de preços.

“É um condão que a política cambial tem, mas não tenho certeza se temos condições macroeconômica de suportar uma desvalorização cambial. Mexer no câmbio gera impacto inflacionário, que mexe com juros e quebra um pouco essa melhoria do mix de política econômica que está acontecendo”, afirma o professor da UFRJ.

Kupfer diz ainda que taxa de juros em níveis baixos também pode contribuir com uma melhoria da indústria, mas não integralmente. “É um instrumento importante, mas não move a economia sozinho. Ninguém vai investir apenas porque o crédito está mais acessível.”