Gustavo Montezano afirmou que pretende ‘redimensionar’ banco; primeira de suas cinco metas é explicar caixa-preta

Fábio Pupo , Gustavo Uribe e Daniel Carvalho – Folha de São Paulo

16.jul.2019 às 12h44

O novo presidente do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), Gustavo Montezano, afirmou nesta terça-feira (16) que assumirá o banco com um conjunto de metas que incluem a venda de até R$ 100 bilhões de participações detidas em outras companhias.

As declarações foram dadas no discurso de posse no Palácio do Planalto. Mais tarde, em entrevista à imprensa, Montezano esclareceu que não necessariamente toda a participação de R$ 100 bilhões será vendida. 

O foco será se desfazer de forma prioritária de ações que gerem um retorno apenas financeiro, e não também social. Segundo ele, o banco pode continuar investindo em ações de empresas caso seja seguida essa mesma lógica.

Ele acrescentou que o ritmo das vendas das ações vai considerar também o valor dos ativos no momento da venda para que o banco não deixe de ganhar recursos.

Montezano fez um discurso que procurou mostrar alinhamento com o presidente Jair Bolsonaro e com a equipe econômica ao citar a chamada “caixa-preta” da instituição. Ele afirmou que essa será a primeira meta de sua gestão. O presidente anterior do banco, Joaquim Levy, defendia que o banco já tem um grau de transparência “que poucas instituições têm”.

Apesar de estabelecer como meta principal de sua gestão a abertura da chamada caixa-preta, Montezano não foi assertivo sobre eventual existência de problemas no banco.

“Não tenho opinião formada sobre o tema [caixa-preta] ainda. Estou vindo com a cabeça aberta sobre o conteúdo das informações que estão lá e estou pedindo prazo de dois meses para formar uma opinião a respeito do tema”, disse em coletiva de imprensa.

Questionado se há possibilidade de, ao fim dos dois meses, se identificar que o banco já possui atuação transparente, ele afirmou que está aberto a qualquer tipo de conclusão.

Montezano afirmou que pretende devolver R$ 126 bilhões em empréstimos ao Tesouro neste ano e que a intenção é devolver um total de R$ 270 bilhões até o fim do mandato, redimensionar a instituição e explicar a “caixa-preta” da empresa.

Além disso, o novo executivo afirmou que o alinhamento com o governo, por meio do ministério da Economia, será de 100%.

Ele afirmou que vai acelerar a venda de R$ 100 bilhões em ações de outras empresas e chamou tais participações de especulativas. Segundo ele, o banco não pode competir com a iniciativa privada.

O novo presidente do banco afirmou ainda que pretende apresentar ao governo um plano trianual com orçamento, metas claras e redimensionamento da instituição para ser cumprido até o final do governo.

Segundo ele, o BNDES vai se voltar a certos assuntos, como privatizações. “O BNDES do futuro, o novo BNDES, será um banco de serviço do estado brasileiro. Ajudando o estado em privatizações, concessões, desinvestimentos e ajudando o gestor público a reestruturar suas finanças”, disse.

Em seu discurso, Bolsonaro salientou a relação que tem com Montezano desde que o atual presidente do BNDES era criança.

“Como um morador do condomínio, acompanhava, em parte, as atividades deles todos e vi que daquela garotada da [rua] dona maria, 71, temos um presidente do BNDES, temos um senador da República [seu filho Flávio Bolsonaro (PSL-RJ)], [que] por seu meu filho, tem seus problemas  potencializados, e temos também, se Deus quiser, um embaixador na potência mais importante do mundo. Estou muito  feliz com este momento”, disse Bolsonaro, referindo-se a outro de seus filhos, o deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP).

Em determinado momento do discurso, Bolsonaro, em um ato falho, referiu-se a Gustavo Montezano como Gustavo Bebianno, ex-ministro que demitiu no começo do governo.

O ministro da Economia, Paulo Guedes, disse que o projeto do governo é “desestatizar o mercado de crédito brasileiro” e despedalar o banco, ou seja, devolver recursos ao Tesouro.

“Se o banco foi pedalado, vamos despedalar o banco. Daí a primeira meta do Gustavo, que é devolver o dinheiro para a União”, afirmou o ministro.

Guedes também afirmou que o BNDES terá como metas acelerar as PPIs (parcerias público-privadas) e as privatizações, além de financiar projetos de saneamento e atuar na reestruturação das finanças de estados e municípios.

As declarações foram feitas na cerimônia de posse do presidente do banco no Palácio do Planalto. Além de Bolsonaro, do ministro Paulo Guedes (Economia) e de Montezano, estiveram no palco o governador de Goiás, Ronaldo Caiado (DEM); o prefeito do Rio de Janeiro, Marcello Crivella; e o senador Fernando Bezerra.

Na plateia, estavam presentes secretários especiais da equipe econômica; ministros como Augusto Heleno (Gabinete de Segurança Institucional) e Bento Albuquerque (Minas e Energia); além do presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto; do Banco do Brasil, Rubem Novaes; e o senador Flávio Bolsonaro (PSL-RJ).

O novo presidente do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), Gustavo Montezano, afirmou nesta terça-feira (16) que assumirá o banco com um conjunto de metas que incluem a venda de até R$ 100 bilhões de participações detidas em outras companhias.