Por Rodrigo Carro – Valor Econômico

29/06/2018 – 05:00

Os municípios brasileiros podem levar mais de uma década para se recuperar das perdas nos níveis de emprego e renda ocorridas entre 2013 e 2016, estima um estudo divulgado ontem pela Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan). A queda – medida pelo Índice Firjan de Desenvolvimento Municipal (IFDM) – só seria inteiramente compensada em 2027, dentro de um cenário “otimista” traçado pela federação.

A mais nova edição da pesquisa, com base em dados de 2016, mostra um forte recuo (-14,6%) na parte específica do índice que mede a evolução do emprego e da renda, frente a 2015. Calculado a partir de indicadores públicos nas áreas de emprego e renda, saúde e educação, o IFDM varia numa escala de zero a um – quanto mais próximo de um, maior o desenvolvimento do município. No caso do IFDM de Emprego e Renda, que responde por um terço do índice geral, o patamar atingido em 2016 foi de 0,4664 ponto.

Para retornar ao patamar pré-crise registrado em 2013, o caminho é longo, de acordo com as projeções da Firjan. Tomando por base a melhor média de crescimento registrada pelo IFDM de Emprego e Renda, referente ao período de 2009 a 2012, o índice avançaria 1,5% ao ano. Nesse ritmo, o patamar de 2013 (0,5461 ponto) só seria ultrapassado em 2027.

“Hoje, o país tem 13,68 milhões de desempregados, mas, se considerarmos a parte subutilizada da força de trabalho, esse número sobe para algo em torno de 27 milhões de pessoas”, explica o coordenador de trabalho e rendimento do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Cimar Azeredo.

O IBGE considera como subutilizado não apenas o desempregado mas também o profissional que, apesar de querer trabalhar mais, tem carga horária de menos de 40 horas semanais. Ou, ainda, a pessoa que tem capacidade para trabalhar mas está fora da força de trabalho.

No cômputo geral, considerando também as variáveis de saúde e educação, o nível socioeconômico dos municípios brasileiros recuou três anos com a crise. Em 2016, a pontuação do IFDM Brasil ficou em 0,6678 ponto, abaixo portanto do patamar registrado em 2013 (0,6715).

Embora tenham evoluído na comparação com 2015, os indicadores de saúde e educação tiveram o menor avanço em uma década. Apesar da desaceleração, tanto o IFDM Saúde como o referente à educação atingiram em 2016 o pico da série histórica iniciada em 2005.

No entanto, o avanço foi insuficiente para compensar a retração do mercado de trabalho nos últimos anos. Somente no período entre 2015 e 2016 foram fechados quase três milhões de postos de trabalho formais no país, lembrou Jonathas Goulart, coordenador de estudos econômicos da Firjan.

De um total de 5.471 municípios avaliados pela Firjan, mais de 4 mil apresentaram aumento na renda no ano passado, em decorrência principalmente do reajuste do salário mínimo. Mesmo assim, o emprego continuou a cair – mais de cinco mil cidades registraram demissões.

“Em 2008 não percebemos interrupção na trajetória de desenvolvimento dos municípios”, comparou Goulart, numa referência aos efeitos da crise financeira global.

Na visão do economista José Márcio Camargo, coordenador econômico da campanha do pré-candidato à Presidência da República Henrique Meirelles (MDB), a recuperação pode vir antes do esperado pela Firjan, principalmente na esfera do emprego.

“A reforma trabalhista vai mudar o que acontecia no passado, ao permitir mais flexibilidade no ajuste dos salários”, sustenta. “A taxa de desemprego vai começar a reagir mais rápido se a economia se recuperar”, afirma.

Camargo sustenta que, se antes da reforma a redução de salário passava necessariamente pela demissão do trabalhador e a contratação de outro “mais barato”, agora há mecanismos – como a terceirização – para diminuir esse custo e ampliar a oferta de empregos.