Por Daniela Chiaretti, Cristiane Bonfanti e Rafael Bitencourt – Valor Econômico

18/03/2018 – 17:56

BRASÍLIA – A preocupação com escassez hídrica e gestão mais eficiente da água não tem a mesma prioridade, nas empresas, que assuntos relativos a mudança do clima e biodiversidade.

Uma pesquisa mundial feita pela consultoria KPMG investigou a importância que o acesso universal à água e ao saneamento até 2030 – meta do sexto Objetivo do Desenvolvimento Sustentável, os ODS das Nações Unidas – tem para as empresas.

O objetivo só é priorizado por 34% das empresas pesquisadas mundialmente e fica apenas no 11º lugar entre as 17 metas globais da ONU.

“Temos que traduzir o que os desafios da água significam para o desenvolvimento. O cenário ficará difícil”, diz ao Valor Marina Grossi, presidente do Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (CEBDS), que reúne 60 grandes empresas no Brasil. “Nos indicadores sobre água estamos apenas engatinhando”, reconhece.

O Fórum Econômico Mundial, de Davos, cita a crise hídrica como ameaça à economia desde 2012, mas esta não é a percepção das empresas, diz Carlo Pereira, secretário-executivo da Rede Brasil do Pacto Global da ONU. “Há uma distância muito grande entre a crise que vivemos e a consciência do tema”, diz Pereira.

A organização fez uma pesquisa entre 1.956 empresas e a meta global da ONU aparece no fim da lista. Também no Índice de Sustentabilidade da Bolsa de Valores, o objetivo é dos menos citados pelas empresas como prioritário.

Colocar a gestão mais eficiente da água na estratégia de negócios assim como incluir o tema na análise de riscos são dois dos seis compromissos que sessenta grandes empresas estão assumindo durante o Fórum Mundial da Água, que acontece esta semana, em Brasília.

São empresas como a Ambev, Coca Cola e Natura que assinam o “Compromisso Empresarial Brasileiro para a Segurança Hídrica”, que será lançado amanhã. A proposta também é de medir e comunicar os resultados com a gestão mais eficiente da água nas empresas, incentivar projetos compartilhados de reuso ou proteção de mananciais, promover o engajamento da cadeia e ajudar com novas tecnologias.

“Quando o tema é água, as empresas, se agirem sozinhas, não terão tanto impacto quanto se o fizerem juntas”, diz Marina Grossi.

Ela cita, por exemplo, a iniciativa de reflorestar a bacia do Guandu, que abastece o Rio de Janeiro, e vem sendo feita pela Coca Cola, Ambev e a ONG The Nature Conservancy (TNC).

“No Brasil convivem parâmetros do século XIX em saneamento ao lado de exemplos de alta tecnologia”, diz Marina. Edson Duarte, secretário de Articulação Institucional e Cidadania Ambiental do Ministério do Meio Ambiente, disse que o tema é estratégico. Citou estudo do Sebrae que mostra que 31% dos negócios serão afetados pela crise de abastecimento de água.

A intenção dos compromissos das empresas é construir uma plataforma que tenha continuidade no próximo Fórum Mundial da Água, no Senegal, em 2021.