Por Assis Moreira – Valor Econômico

Após anos de crise, o otimismo com a economia mundial nunca foi tão grande como agora no Fórum Econômico Mundial. Ao mesmo tempo, começam a se disseminar preocupações com os riscos decorrentes de um período de oito anos de alta nos ativos.

Nova crise financeira? Esse foi o título da sessão mais concorrida do Fórum em seu primeiro dia, em Davos. Foi a pergunta mais respondida pelos debatedores. E as respostas, em resumo, têm dois lados.

O primeiro, tranquilizador, diz que a economia global não ruma inevitavelmente para um colapso dos mercados financeiros. Embora a exuberância atual, que levou os mercados de ações a uma valorização de US$ 3 trilhões, tenha semelhanças com a de 2007/2008, há hoje um nível de endividamento muito menor que há dez anos.

O segundo lado, preocupante, alerta para a imprevisibilidade. Mesmo não havendo uma bolha global a explodir, nada garante que uma crise não possa ser deflagrada por um incidente em algum canto do mundo. Isso porque os órgãos reguladores dos mercados têm agora pouca munição para enfrentar uma eventual crise, algo que o Fórum de Davos já destacara em relatório na semana passada.

O Valor reuniu declarações bastante preocupantes de grandes executivos das finanças internacionais e de acadêmicos.

Jes Staley, CEO do banco Barclays, disse que, diante de um crescimento econômico global de 4%, o mercado de ações poderá continuar em alta. Ele teme, porém, que um aumento da inflação nos EUA leve a uma alta maior dos juros, com evidente impacto nos mercados, em especial nos emergentes.

A CEO do M&G Investments, Anne Richards, observou que a expansão dos ganhos nas bolsas hoje se parece com a do pré-crise de 2008, quando os mercados financeiros exibiam uma forte complacência. Michael Corbat, presidente do Citigroup, disse que há, no momento, um “entorpecimento”.

“Normalmente, quando as pessoas estão muito felizes e confiantes, alguma coisa ruim acontece”, disse David Rubenstein, CEO do grupo Carlyle, visivelmente pouco à vontade com o entusiasmo atual nos mercados.

Para o professor Kenneth Rogoff, de Harvard e estudioso de crises financeiras, a próxima crise pode vir da China, pelo acúmulo de endividamento na segunda maior economia do mundo. Para ele, a China é o país que exibe várias características de construção típica de uma crise financeira.

Um veterano banqueiro, Bill Rhodes, do Citibank, ausente de Davos neste ano, escreveu um artigo na semana passada insistindo que investidores estão dando pouca atenção a uma série de sinais, a exemplo do que aconteceu em 2007. Para ele, a valorização de muitas ações nos EUA reflete um otimismo exagerado em futuros ganhos. “Outra correção está vindo, e um declínio no mercado de ações nos EUA de 10% a 20% é provável antes do fim de 2018”, escreveu Rhodes.