Por Rodrigo Rocha e Camila Maia – Valor Econômico

08/05/2018 – 05:00

A indicação pelo Governo do Estado de São Paulo do nome de Karla Bertocco para a presidência da Sabesp, em substituição a Jerson Kelman, repercutiu negativamente nos papéis da companhia, que fecharam em queda de 4,19%, entre as principais perdas do Ibovespa. A leitura do mercado foi de que a saída antecipada do executivo pode afetar dois processos importantes para este ano, a revisão tarifária e a capitalização da companhia.

Karla, que ocupava a Subsecretaria de Parcerias e Inovação do Estado de São Paulo, é vista por parte do investidores como menos amigável ao mercado que Kelman. A indicada já possui experiência no setor, uma vez que atuou como diretora de relações institucionais da Arsesp, agência reguladora dos serviços de saneamento de São Paulo. Como subsecretária, participou ativamente de diversos processos de parceiras com o capital privado, como concessões de rodovias, a privatização da Cesp e o processo de criação da holding controladora da Sabesp.

A futura comandante da estatal também atuou na Artesp, reguladora do serviço de transportes do Estado, com experiências anteriores na Sabesp e na Secretaria de Recursos Hídricos. Ao todo, são 15 anos na administração paulista.

Kelman assumiu a Sabesp em 2015, em meio a crise hídrica, e reorganizou os investimentos da empresa para reforçar o sistema de abastecimento de água da região metropolitana de São Paulo. No momento, as discussões estavam centradas na última fase do processo de revisão tarifária e na criação da holding controladora, que levaria a uma capitalização na estatal.

Por contrato, Kelman ficaria até o fim do ano, após as eleições.

A ação acontece um mês depois da saída de Geraldo Alckmin (PSDB) do governo para disputar a Presidência da República. O até então vice-governador Márcio França (PSB) assumiu o comando e é pré-candidato à reeleição.

Em relatório, o J.P.Morgan afirmou que o anúncio poderia desapontar o mercado. A leitura é de que Karla “não tem uma sólida experiência em saneamento”.

Receio de parte dos investidores é que revisão tarifária tenha apoio menor com a nova administração Segundo um analista do setor que preferiu não se identificar, a experiência anterior da nova presidente na Arsesp é considerada como um fator de enfraquecimento do apoio da companhia a um reajuste maior. “Qualquer um será pior que o Kelman”, disse.

Na segunda etapa do processo de revisão tarifária, que deve ser concluído ainda neste mês, a Arsesp propôs um aumento de 4,77%. A Sabesp, por outro lado, calcula um reajuste de 9,52%.

Anunciada no ano passado, e ainda sem diretrizes completamente definidas, a holding deve atrair um parceiro – ou parceiros – minoritário que administrará a participação de 50,3% na estatal, hoje diretamente nas mãos da Secretaria da Fazenda do Estado. Na prática, a nova empresa permitiria ao governo reduzir sua fatia sem perder o controle da Sabesp, levantando dinheiro para o Estado e também para a companhia.

Até o fim de 2017, as previsões eram otimistas sobre a operação, com a expectativa de que o processo se desse ainda no primeiro semestre. Contudo, o último pronunciamento aconteceu há quase dois meses, devido ao recebimento pelo governo de uma carta para potencial aquisição de parte das ações da holding vinda “de um grupo de investidores”.

Ainda não há data oficial para a reunião do conselho de administração da companhia que mudará o presidente. Para quinta-feira, está prevista a divulgação dos resultados do primeiro trimestre da companhia estadual. Procurada, a Sabesp não soube confirmar se a data está mantida e se Kelman deve participar da teleconferência sobre os resultados. O governo de São Paulo também não deu mais detalhes sobre a substituição.