Por Andrea Jubé e Fabio Graner – Valor Econômico

06/04/2018 – 05:00

O MDB preparou para o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, uma infraestrutura completa para que, a partir de segunda-feira, ele comece a despachar na sede do partido em Brasília, a fim de traçar a linha de ação da pré-campanha com aliados e tentar impulsionar seu nome no eleitorado. No entanto, Meirelles deu um passo atrás em relação a terça-feira, quando disse que ficaria no cargo só até hoje, e renovou o clima de suspense dos últimos meses sobre deixar ou não o comando da pasta para disputar as eleições deste ano.

A edição de hoje do “Diário Oficial da União” (DOU) não traz a exoneração de Meirelles, que segundo interlocutores só decidirá nos últimos minutos sua efetiva saída do Ministério da Fazenda. Como o prazo de desincompatibilização esgota-se amanhã, ainda é possível publicar uma edição extra do DOU.

Apesar das declarações do presidente do MDB, senador Romero Jucá (RR), de que Meirelles está “à disposição do partido”, um interlocutor afirma que ele não aceita desempenhar o papel de candidato a vice-presidente. “Se for para ser vice, ele fica no ministério”, afirma um interlocutor frequente do ministro.

Caso o atual ministro aceite o risco e deixe a Fazenda, a partir de segunda-feira, a sede do MDB no Lago Sul, em Brasília, vai se transformar no escritório da pré-campanha de Meirelles, onde ele despachará com aliados e traçará as estratégias de ação.

Na próxima semana, ele já seria colocado como “garoto-propaganda” do lançamento do “Ponte para o Futuro 2”, o programa de campanha do MDB, com o anúncio da continuidade das agendas de reformas que Temer não conseguiu concluir, disse ao Valor o presidente do MDB, senador Romero Jucá (RR).

O programa está sendo redigido por Meirelles, Jucá e o secretário-geral da Presidência da República, ministro Moreira Franco, que também preside a Fundação Ulysses Guimarães.

Caso Meirelles saia, também está definida a estratégia de que Temer e ele vão viajar o país em agendas separadas: enquanto um estiver no Sul outro estará no Nordeste, para divulgar realizações do governo.

O MDB já definiu os palanques dos candidatos a governadores nos Estados, como São Paulo com o presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Paulo Skaf, e irá aproveitar sua capilaridade com seis governadores e mais de mil prefeitos para lançar 13 pré-candidatos a governador.

Nos Estados, cada líder do MDB tem um candidato, mas há quem acredite que entre Temer e Meirelles é melhor lançar a candidatura do ministro da Fazenda, que teria menos rejeição.

O problema todo é que ele demonstrou a interlocutores próximos novas dúvidas sobre a conveniência de deixar o cargo atual de chefe da equipe econômica, embora sonhe em disputar o posto máximo da República.

Meirelles não gostou do formato da cerimônia de filiação ao MDB. Relatos apontam que havia sido prometido para ele uma cerimônia na qual ele seria o protagonista e, no fim das contas, foi feita uma festa na qual o presidente Michel Temer foi o principal destaque.

A frustração de expectativa no evento ajudou a renovar as dúvidas que têm acometido o ministro da Fazenda há semanas, embora também haja dúvidas se a colocação dessa incerteza não seria apenas uma maneira de manter holofotes sobre ele até o último momento no governo ou uma estratégia de valorizar seu passe dentro do MDB, que passou por um duro golpe com a prisão dos amigos mais próximos de Temer.

Outro fator que gera preocupações no entorno de Meirelles seria a disputa de bastidor entre o Romero Jucá (RR) Moreira Franco pelos rumos do partido na campanha presidencial. O grupo de Meirelles tem preferência por Jucá nesse embate porque o senador é o maior defensor da candidatura própria do partido e foi quem convidou o ministro a entrar na agremiação.

Há um reconhecimento de que o baixo índice de intenção de votos até agora mostrado pela candidatura Meirelles é um fator que dificulta a decisão do ministro. Além disso, a incerteza sobre se Temer vai mesmo querer encabeçar a chapa presidencial persiste, mesmo após to o o círculo próximo do presidente ter sido alvo da Operação Skala, reforçando a imagem negativa dele.

Um interlocutor ressalta que, embora uma leitura preliminar aponte em maior fragilização da possível candidatura Temer, a lógica palaciana apontaria para a aposta dobrada do presidente, evitando assim ficar na defensiva politicamente.

Em 2010, Meirelles também adiou o quanto pôde sua decisão de deixar o BC para se candidatar como vice de Dilma Rousseff ou ao governo de Goiás. Acabou optando por ficar no comando da autoridade monetária, com algum dano de imagem por ter segurado uma elevação de juros já sinalizada naquele início de ano, e depois não conseguiu se entender com Dilma para continuar no primeiro governo dela.