Cláudia Trevisan, correspondente, O Estado de S.Paulo

17 Janeiro 2018 | 14h05

Presidente da Câmara afirma que no dia que ele tiver 7%, ‘as coisas melhoram muito’, em evento nos Estados Unidos

WASHINGTON – O presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), admitiu nesta quarta-feira, 17, que poderá disputar a sucessão de Michel Temer caso obtenha números mais elevados nos levantamentos sobre intenção de voto. “Hoje não, eu tenho 1% nas pesquisas. No dia em que eu tiver 7%, as coisas melhoram muito”, declarou, em resposta a pergunta sobre sua eventual candidatura. Em evento no Brazil Institute do Wilson Center, em Washington, Maia defendeu uma agenda de reformas que leve à reestruturação e ao equilíbrio fiscal do Estado brasileiro, o que abriria caminho para a criação de programas sociais sustentáveis.

Na opinião do parlamentar, o Bolsa Família não é um “bom programa social”, por não ter mecanismos que permitam a independência de seus beneficiários. “Criar um programa para escravizar as pessoas não é um bom programa social. O programa bom é onde você inclui a pessoa e dá condições para que ela volte à sociedade e possa, com suas próprias pernas, conseguir um emprego.”

Em entrevista depois do evento, Maia disse que o Bolsa Família gera “dependência”, por não criar uma “porta de saída” para os participantes. “Essa dependência atrela as pessoas ao Estado.” O deputado defendeu mudanças que criem obrigações em relação à saúde, educação e saneamento, que levaria as pessoas as serem “estimuladas a sair do programa”.

Para ele, a ausência de obrigações para os beneficiários os transforma em “dependentes”. Maia afirmou que o Bolsa Família é um programa “liberal” e não de esquerda, mas criticou a maneira como ele foi implementado pelo PT. “É engraçado que o Brasil cresceu tanto no governo do PT e o número de pessoas dependentes do Bolsa Família aumentou. Tem alguma coisa errada. Se o Brasil está ficando mais rico, por que há mais pessoas pobres dependentes do Bolsa Família? Essa era uma distorção grande.”

Para ele, a principal questão em relação ao programa é a porta de saída para seus beneficiários. “Como é que você dá condições para o cidadão pobre brasileiro, que depende do Bolsa Família, que o filho dele tenha uma condição de escolaridade, uma condição de saúde, cursos profissionalizantes para que ele possa sair da dependência e possa gerar sua própria renda.”

O presidente da Câmara defendeu ainda que o programa esteja vinculado a políticas públicas que deem condições de igualdade a todos. “Para que esse cidadão hoje, que tem uma escolaridade de pior qualidade, não tem saneamento no bairro dele, não tem o mínimo social, que você gere as condições para que dali para a frente ele tenha condições de competir com o filho de um trabalhador de classe média, classe média alta”, ressaltou.

‘CIDADE DE DEUS’

O Minha Casa Minha Vida também foi criticado pelo deputado do DEM, para quem a falta de estrutura e condições de saneamento poderá transformar unidades do programa em novas versões da Cidade de Deus, o conjunto do Rio de Janeiro marcado pela pobreza e violência.

Segundo ele, muitas unidades não têm escolas, postos de saúde nem ligações ao sistema de tratamento de esgoto, que é jogado em valas abertas. “Dou exemplo real, do que acontece com a vida das pessoas num projeto social mal feito, importante, mas que deveria vir, no conjunto, com outras políticas, para dar de fato condições para aquela família”, declarou.

Em sua opinião, a ausência dessas políticas complementares “vai acabar transformando esses ambientes como no passado se transformou no Rio de Janeiro a Vila Kennedy e a Cidade de Deus”.