Anna Virginia Balloussier – Folha de São Paulo

27/11/2017  02h00

O Partido Social Cristão não é mais o mesmo –se você comparar os programas de TV que a legenda apresentou em 2013 e 2017, anos pré-eleitorais.

Em dois blocos de dez minutos cada um, exibidos quatro anos atrás, núcleos familiares compostos por marido, mulher e filhos eram o centro das atenções, embalados por slogans como “a família em primeiro lugar”. Estrela da sigla, o pastor Marco Feliciano, aparecia logo no primeiro minuto.

Agora, não. Pré-candidato do PSC à Presidência, o presidente do BNDES, Paulo Rabello de Castro, monopoliza a peça. Feliciano só aparece depois do sétimo minuto -e para falar sobre “livre iniciativa”.

A primeira menção a uma bandeira conservadora só chega aos 7 minutos e 30 segundos, quando Zequinha Marinho, vice-governador do Paraná, afirma: “Defendemos a vida desde a sua concepção”.

Quem não está lá: Jair Bolsonaro e o filho Eduardo, ambos deputados e de mudança do PSC (provavelmente para o Patriota). Coadjuvante na nova propaganda política, Feliciano confirmou à Folha que também deixará o PSC, com destino ainda indefinido.

“Nossa história tem a oportunidade de ser reescrita”, diz o locutor na largada do programa. Refere-se aos rumos do Brasil, mas poderia muito bem estar falando da legenda.

A meta é dar uma nova roupagem, com foco na receita liberal para a economia, a um dos partidos que melhor vestem a camisa do conservadorismo nacional -7 dos seus 11 deputados integram a bancada evangélica da Câmara.

Sai o pastor Everaldo, presidente do PSC e candidato ao Palácio do Planalto em 2014, entra o economista Rabello, que trocou a presidência do IBGE pela do BNDES em maio, indicado por Michel Temer.

Estrela do programa da última terça-feira (21), Rabello deixou o Partido Novo para se filiar ao PSC no início outubro. Num ato em Salvador na semana passada, foi apresentado como pré-candidato para o pleito de 2018 -enquanto segue à frente de um banco com previsão de emprestar R$ 100 bilhões no ano que vem.

O discurso já é o de político em campanha: disse então querer “higienizar” a política num país dominado pelas “elites endinheiradas”. Em evento do mês passado, classificou os juros no Brasil de “pornografia econômica”.

O economista é ligado ao Instituto Millenium, centro de estudos liberal, e cita como referências políticas “o antigo PFL” (atual DEM) e o senador Antônio Carlos Magalhães (1927-2007).

PAUTA LIBERAL

Na Bahia de ACM, Rabello disse que trocou o Novo pelo PSC para estar mais em sintonia com “princípios sociais e cristãos”. Católico, o autor de “O Mito do Governo Grátis” (2014) não é estranho no ninho evangélico. Em março, levado pelo pastor Everaldo e ainda na condição de presidente do IBGE, foi à convenção nacional da Assembleia de Deus Madureira, uma das maiores congregações evangélicas do país.

Faz todo o sentido jogar luz na agenda econômica e se afastar do radicalismo exalado pela família Bolsonaro, dizem quadros do PSC à Folha.

“A pauta econômica é hoje uma prioridade total e absoluta”, afirma o pastor Everaldo. “Naturalmente que vocês da imprensa gostam de nos perguntar só coisas de família e costume, mas se você prestar atenção, em 2014 fui o único [presidenciável] a defender privatização, Estado enxuto etc. Ninguém quis dar ouvido. Agora temos um economista linha de frente, a imprensa, então você vai ter que falar com o PSC sobre o tema.”

“Com a economia pós-PT em crise, queríamos que o Brasil entendesse que estamos focados no assunto. Se a economia vai bem, as famílias também estarão bem”, afirma Hidekazu Takayama, presidente da bancada evangélica.

Nos bastidores, porém, alguns parlamentares se disseram incomodados com o espaço minguado, no programa partidário, para bandeiras tradicionais do PSC, como o combate ao aborto e a ideologia de gênero nas salas de aula.

A tonificação do discurso liberal contrasta com críticas a Bolsonaro, que no mês passado, em palestra a investidores, admitiu “inexperiência em algumas áreas”, inclusive no campo econômico.

Para Takayama, é na matemática eleitoral que o parlamentar levava vantagem. “Ele puxaria muitos votos à legenda. Só o tempo dirá se Bolsonaro é só mito ou realidade.