Regina Pitoscia – O Estado de S.Paulo

A semana começa com a perspectiva de nova mexida no juro básico da economia, a Selic. Na reunião de quarta-feira, o Comitê de Política Monetária (Copom) deve dar mais uma limada na taxa de juro. Existe consenso de que o atual nível de 8,25% passe por um corte de 0,75 ponto porcentual e a Selic recue para 7,50% ao ano.

Inflação

Tão importante quanto conhecer seu novo tamanho, pura e simplesmente, é saber quais as implicações dos juros menores na economia. Existe aí uma relação direta com a inflação que, projetada em torno de 3% para este ano, permite nova redução na Selic.

Se os preços estão comportados é sinal de que a oferta de bens e serviços no mercado está sendo capaz de atender à procura. Assim, não há necessidade de manter a taxa elevada para inibir possível aquecimento do consumo ou encarecer o crédito.

Rendimento

A Selic deve cair também para estreitar a margem de juro real, a distância que separa a taxa básica da inflação. No nível de 7,50% ao ano, a Selic estaria embutindo ainda uma parcela de 4,50% acima do IPCA estimado. Esse é o dado mais relevante a ser considerado por quem aplica seu dinheiro com remuneração à base de juros.

Importante também é que, mesmo com uma rentabilidade inferior a 0,5% ao mês ou 6% ao ano, as opções em renda fixa estão conseguindo repor as perdas para a inflação. Esse é o ponto.

Dívida pública

O que o investidor deixa de ganhar com juros mais baixos na renda fixa alivia o caixa do governo e a pressão sobre as contas públicas. É que a a Selic remunera os títulos da dívida pública que o Tesouro oferece ao mercado financeiro para cobrir o rombo nas contas do governo.

Estima-se que tenha havido uma economia de cerca de R$ 80 bilhões em juros da dívida, com a redução da Selic de 14,25% ao ano, em setembro de 2016, para a atual de 8,25%, em agosto deste ano.

Quem não sentiu ainda a Selic mais baixa chegar ao bolso é o consumidor que precisa de financiamento e continua pagando juros pesados.

Dólar

A redução dos juros, que diminui a rentabilidade das aplicações em renda fixa, tradicionalmente costuma pressionar para cima os preços do dólar. É o reflexo da movimentação dos investidores à procura de um retorno mais interessante. Mas a moeda norte-americana, zanzando no intervalo entre R$ 3,19 e R$ 3,13 (cotações de fechamento) ao longo deste mês, tem se mostrado insensível a esse cenário.

E a razão está na entrada de capital estrangeiro no País. Sobra dinheiro no mundo em meio a juros perto de zero ou negativos nos mercados financeiros dos países centrais. À procura de remuneração diferente disso, os capitais externos não resistem à atratividade dos juros domésticos que, apesar das quedas nominais, acenam com taxas reais sedutoras, vários pontos acima da inflação.

Está aí, senão a principal, uma das principais razões da indiferença do dólar às tensões da crise política que sacode Brasília. Adicionalmente, o risco para o investidor estrangeiro é minimizado também pela situação tranquila das contas externas do País: volume de reservas internacionais perto de US$ 370 bilhões e seguidos resultados positivos e confortáveis em transações feitas com outros países.

O bom comportamento do dólar deixa o Banco Central à vontade para reduzir as taxas de juro a níveis históricos de baixa. Uma elevação indesejável da moeda americana com efeito nocivo sobre a inflação, como reação ao corte dos juros, exigiria a retomada de aperto da política monetária para conter a aceleração de preços. Uma hipótese aparentemente afastada do horizonte da economia nos próximos anos.