Se os países da América Latina investissem, em média, 0,3% do Produto Interno Bruto (PIB) por ano, a universalização do acesso à água potável e à coleta de esgoto poderia ser feita em 17 anos, diz estudo realizado pela instituição multilateral conhecida por CAF, do Banco de Desenvolvimento da América Latina. O custo da má qualidade da água varia entre 1% e 2,5% do PIB em países da região, segundo um novo estudo que está sendo feito pela instituição. “Os ministros de Finanças, que geralmente tomam decisões, têm que ter claro os números e enxergar que há vantagens econômicas em investir em água”, disse ao Valor José Carrera, vice-presidente de desenvolvimento social e ambiental da CAF. “Trata-se de um problema muito forte na América Latina”, afirmou. Ele diz que na região existem 100 milhões de pessoas sem saneamento e 24 milhões sem água de qualidade.

“A relação entre água e saúde é direta”, diz Teresa Vernaglia, presidente e CEO da BRK Ambiental (antiga Odebrecht Ambiental), a maior operadora privada de saneamento do país. Segundo dados do Instituto Trata Brasil, a cidade de Franca, no interior de São Paulo, com 300 mil habitantes, praticamente universalizou o fornecimento de água, assim como a coleta e o tratamento de esgoto. Entre 2007 e 2015, a cidade registrou apenas 460 internações por diarreia. No mesmo período, Ananindeua, no Pará (cerca de 520 mil habitantes), a última colocada no ranking do instituto, teve 36.473 internações.

O consumo de água na América Latina também é alto. As organizações mundiais indicam 200 litros por dia de consumo de água por pessoa, mas na AL este valor é de 600 litros, em países como o Panamá e a Argentina. Não há praticamente cultura de reúso da água na região. “Isso significa usar várias vezes o mesmo recurso. A água que foi usada pode ser tratada e reutilizada em parques”, cita Carrera. Lima, a segunda maior cidade do mundo em deserto – a primeira é o Cairo -, está ampliando seu programa de reúso de água.

Nas contas do Banco Mundial, para que seja cumprido globalmente o Objetivo de Desenvolvimento Sustentável que trata de garantir acesso universal à água em 2030, assim como saneamento básico – o ODS 6 -, são necessários US$ 115 bilhões ao ano. A lacuna dos investimentos atuais é grande. A instituição investe hoje cerca de US$ 5 bilhões ao ano em projetos relacionados a água em mais de cem países. “Precisamos ser mais eficientes em manejar água e reduzir perdas”, diz Guang Z. Chen, diretor sênior de Práticas Globais de Água do Banco Mundial. Um novo estudo do Banco Mundial (“Uncharted Waters: The New Economics of Water Scarcity and Variability”) mostra como as maneiras atuais de gerenciar água são ultrapassadas.

O relatório analisa como o número crescente de secas e inundações afetam fazendas, empresas e famílias de maneira muito mais cara e longa do que acontecia no passado. As consequências da seca são pouco visíveis e provocam o que o estudo chama de “miséria em câmara lenta”. A CAF tem cerca de US$ 900 milhões investidos em projetos aprovados ou em fase de confirmação relacionados a água no Brasil. O Banco Mundial tinha cerca de US$ 1,5 bilhão aplicado aqui até o ano passado em projetos de água, sem contar agricultura.