Produtividade nordestina equivale a apenas 57% da média brasileira

Vinicius Torres Freire – Folha de São Paulo

28.mar.2018 às 2h00

Nos anos melhores do crescimento brasileiro, viu-se que o Nordeste pode crescer rápido. Pelo menos, a região cresceu em ritmo bem maior do que o restante do país entre 2004 e 2015. Melhor ainda, o aumento da produtividade por trabalhador foi o maior.

Produtividade significa produção por trabalhador, a criação de valor por cabeça, per capita, das pessoas empregadas. Um estudo do Banco Central mostrou que, entre 2004 e 2015, a produtividade cresceu 29,7% na região. Na média do Brasil, 18,1%. No Sudeste, 12,5%. A produtividade nordestina superou a de uma região dinâmica como o Centro-Oeste. O trabalho do BC está no Boletim Regional de janeiro deste ano.

Mas também pode se ver um copo bem vazio nessas comparações de produtividade, que é uma medida básica de bem-estar material. Mesmo com os progressos, a produtividade nordestina equivale a 57% da média brasileira. O rendimento do trabalho equivale a 60% daquele registrado no Sudeste.

O que aconteceu nos anos de progresso mais acelerado no Nordeste? Houve pequeno aumento da população ocupada, com grande mudança de empregos entre setores: muita gente saiu da agricultura para trabalhar na indústria e nos serviços, atividades nas quais a produtividade é o quádruplo da agrícola, no Nordeste.

Implantação de indústrias relacionadas à produção do petróleo, expansão da fabricação de veículos, obras importantes de construção civil e no setor de energia ajudam a explicar a melhoria. Transferências de renda e assistência social contribuíram para estimular o setor de serviços.

Problemas estruturais permanecem. As taxas de desemprego, informalidade e subocupação em geral são cronicamente mais altas no Nordeste, em relação às regiões mais desenvolvidas. A infraestrutura social e produtiva, de saneamento a estradas, é mais precária. A oferta de serviços de água e esgoto supera apenas a da região Norte.

A produtividade na agricultura é a menor, de longe, das regiões brasileiras: um sétimo da eficácia do Centro-Oeste, um terço da média nacional. A agricultura mais moderna em regiões da Bahia, do Maranhão e do Piauí não bastou para alterar o problema crônico do Nordeste.

A experiência dos anos 2004-2015 mostrou que há oportunidades grandes de progresso, porém. O subemprego de mão de obra, taxas menores de escolarização, deficiências de infraestrutura e a falta de tecnologia e crédito na pequena agricultura são pistas quase evidentes de como fazer com que a região avance sobre bases sólidas.

O investimento em infraestrutura social —água e saneamento em particular, mas também estradas— pode absorver mão de obra ainda pouco qualificada ao mesmo tempo em que movimenta a economia da região e resolve gargalos produtivos crônicos, tal como o problema da água. Os resultados do Ceará indicam que, mesmo sob adversidades materiais, uma boa administração pode incrementar os números da educação.

Em suma, um programa especial de investimento maciço em infraestrutura no Nordeste, social em particular, é um programa inescapável para a região dar seu próximo salto.