Por Ana Conceição – Valor Econômico

Após aumentar por dois meses consecutivos, a economia brasileira diminuiu em agosto, acompanhando a queda da indústria, do varejo restrito e dos serviços. É o que deve mostrar o Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBCBr), que será divulgado hoje.

Estimativa média de 21 consultorias e instituições financeiras consultadas pelo Valor Data aponta queda de 0,23% para o índice, após altas de 0,41% em julho e de 0,55% em junho, dados que devem ser revisados pelo BC. A queda em agosto, contudo, não deve interromper a tendência de recuperação gradual da atividade, segundo analistas.

Os três grandes setores econômicos se retraíram em agosto. A produção industrial recuou 0,8% ante julho, feito ajuste sazonal. O varejo restrito caiu 0,5% e o volume de serviços cedeu 1%. O mês foi mais fraco que o esperado, mas os números não implicam mudança de tendência, afirma Luiz Castelli, economista da GO Associados.

“O IBC-Br deve recuar, mas isso não é preocupante. A queda na atividade foi mais uma acomodação depois de alguns meses de resultados positivos”, afirma Castelli. A consultoria estima queda de 0,47% para o índice do BC, ante julho. Na comparação com o mesmo período do ano passado, o dado deve registrar alta. A GO prevê crescimento de 1,84%. Na média, os analistas consultados pelo Valor Data estimam aumento de 1,98%.

Castelli pondera que a média móvel trimestral do índice de difusão de atividade calculado pela GO Associados, que envolve 35 diferentes indicadores, atingiu em agosto seu maior nível (82,9%) desde maio de 2010. “A queda de agosto não foi suficiente para devolver a alta dos dois meses anteriores. A tendência continua positiva”, diz. O índice de difusão tem correlação de quase 90% com o PIB, afirma. Segundo o economista, dados já disponíveis sobre setembro sugerem que o mês deve ter sido positivo.

Os dados do terceiro trimestre divulgados até agora pelo IBGE mostram desaceleração do crescimento na indústria, no varejo e nos serviços. Esse último, porém, se destaca por ter devolvido com sobra o tímido crescimento do segundo trimestre. Na média de julho e agosto, o volume de serviços caiu 0,28% ante alta de 0,22% entre abril e junho, na série com ajuste sazonal.

Analistas consideram que o sobe e desce dos índices é típico de momentos de recuperação, mas os resultados, em especial no varejo e nos serviços, podem ter sido influenciados pelo término do período de saque das contas inativas do FGTS.

Mauricio Nakahodo, do Mitsubishi UFJ, também afirma que agosto foi um momento de acomodação da atividade. O banco estima queda de 0,4% no IBC-Br em agosto ante julho. Nas contas de Nakahodo, sem considerar possíveis revisões do BC, esse recuo, mais uma estabilidade em setembro, resultaria num crescimento de 0,42% na média móvel trimestral do dado. “Por isso, estamos mantendo nossa estimativa de crescimento 0,35% no PIB do terceiro trimestre ante o segundo”. No segundo trimestre, houve alta de 0,2% sobre o primeiro. Para o quarto trimestre, o banco estima aumento de 0,5%. No ano, a previsão é de expansão de 0,8% no PIB.

O Santander não alterou a expectativa para o PIB do terceiro trimestre, de aumento de 0,3%, apesar da queda esperada de 0,2% no IBC-Br. “Estimamos que o varejo ampliado, bastante correlacionado com o componente de consumo das famílias do PIB, tenha crescido ao redor de 1,5% no terceiro trimestre, desempenho similar ao observado no trimestre anterior, de 1,7%”, diz o banco em relatório.