Por Daniela Chiaretti, Valor Econômico

A organização Médicos Sem Fronteiras (MSF) está desenvolvendo um aplicativo para que suas equipes possam reagir mais rapidamente e ajudar vítimas de eventos climáticos extremos no Sudeste Asiático.

Chamado de Reach (Reaction Assessment Collaboration Hub), o aplicativo vai reunir dados da região, previsão do tempo e informações importantes para que as equipes possam prestar ajuda rapidamente nos casos cada vez mais frequentes de tempestades nas Filipinas, Indonésia ou Índia.

“A mudança do clima é um multiplicador de ameaças”, diz Carol Devine, assessora para assuntos humanitários da MSFCanadá. “Estamos muito preocupados porque sabemos que teremos mais eventos extremos e não estamos preparados.

” Carol Devine é cientista social com experiência de atuação em Ruanda, no Sudão do Sul, no Peru e no Timor Leste, sempre com a MSF. “Mais desastres vão acontecer e estamos tentando ser mais práticos, saber onde estão os nossos kits de emergência, aliar a tecnologia para nos ajudar com a logística”, ilustra.

O verão alemão está registrando recordes de dias quentes e períodos sem chuva, com fortes ondas de calor. Foram quatro meses de calor intenso, temperaturas altas e até focos de incêndio na região de Berlim. “Não temos ainda os dados sistematizados, mas podemos observar que essas situações são cada vez mais frequentes”, diz Hans-Guido Mücke, cientista do departamento de higiene ambiental da Agência Ambiental Alemã.

Em 2003, uma forte onda de calor atingiu a Europa. Estima-se que o impacto tenha sido de 60 mil mortes. Um grupo de especialistas alemães fez recomendações de como o país pode lidar melhor com eventos extremos. Boletins diários com previsão de tempo e outros dados metereológicos são enviados a hospitais e casas de repouso, para ajudar na prevenção.

Essas experiências serão divulgadas hoje, em Brasília, durante o Encontro Internacional de Clima e Saúde, promovido pelo Instituto Clima e Sociedade (iCS) e pela Embaixada da Alemanha. O evento trará especialistas para discutir os efeitos das mudanças climáticas na saúde.

A geógrafa Helen C. Gurgel, professora da Universidade de Brasília (UnB) e que trabalha com saúde e clima desde 2001, diz que “a saúde é síntese do ambiente, tanto para o indivíduo como para a comunidade”. Ela explica: “Se conseguirmos melhorar o quadro ambiental local ou global, o reflexo será a melhora na saúde”. Ela se espanta, por exemplo, que não exista conexão entre a melhora que obras de saneamento básico possam trazer à saúde pública.