Por Juliana Machado e Lucinda Pinto – Valor Econômico

A combinação de um movimento muito forte nas bolsas no exterior, onde os investidores seguem mais propensos à tomada de risco, com as perspectivas de retomada econômica do Brasil vem dando um impulso tão importante para o Ibovespa que o índice conseguiu superar, em um único pregão, dois patamares históricos de uma só vez. Com a ajuda da Petrobras, que voltou aos maiores patamares em mais de três anos, o principal índice da bolsa brasileira deixou para trás os 80 mil pontos tão esperados nos últimos dias para encerrar na marca inédita dos 81 mil pontos, em uma trajetória que sinaliza ter forças para prosseguir.

O Ibovespa fechou ontem com ganho de 1,70%, aos 81.189 pontos, na máxima do pregão. O volume negociado atingiu os R$ 7,4 bilhões – demonstrando que, de fato, os investidores estão montando posições nos ativos da renda variável local.

O dia foi especialmente favorável para a Petrobras. Embora tenha sido a abertura das bolsas americanas o fator responsável por impulsionar o mercado local, os papéis já traçavam um ritmo de ganhos desde a abertura. As ações da estatal atingiram os maiores níveis desde outubro de 2014, um mês antes de a companhia começar a ser penalizada pelos investidores pelo adiamento da divulgação do balanço do terceiro trimestre daquele ano, devido aos impactos das investigações da Operação Lava-Jato. A ação ordinária da empresa subiu 3,62% no fechamento, a R$ 19,47, enquanto a preferencial teve valorização de 4,02%, a R$ 18,36, pautadas pela maior confiança dos agentes de mercado na resolução do imbróglio sobre a cessão onerosa com o governo.

Embora se fale muito em riscos possíveis para a escalada do Ibovespa este ano, com ênfase nas eleições em outubro e, no curto prazo, o julgamento do ex-presidente Lula no caso triplex no dia 24, uma coisa parece dada para operadores e analistas: os fundamentos da economia no mundo e no Brasil são suficientes para garantir a trajetória forte da bolsa. A intensidade deve ser calibrada por aspectos políticos, mas o ritmo é forte o bastante para garantir a escalada.

Especialistas notam que o índice segue em ritmo positivo em meio aos recordes que as bolsas americanas vêm testando, com o Dow Jones rompendo ontem o nível histórico dos 26 mil pontos. O ambiente favorável no exterior, sem uma leitura de risco que atrapalhe a demanda, colabora para que os mercados emergentes aproveitem esse ambiente e também sigam semelhante performance.

O desempenho é relevante ainda em um momento que os investidores estrangeiros vêm ingressando no Brasil com bastante intensidade. No acumulado dos primeiros pregões de janeiro, até o dia 15, os não residentes já colocaram R$ 4,1 bilhões em bolsa, quase um terço dos R$ 13,3 bilhões alocados em todo o ano passado.

Ontem, o dia também foi de brilho para a estatal de saneamento paulista Sabesp, com as ações encerrando em forte ganho de 5,34%, a R$ 35,89, na liderança das altas do Ibovespa. O giro do papel foi de R$ 87,4 milhões, mais de três vezes superior aos R$ 24,3 milhões negociados no pregão anterior. O ativo respondeu à nota preliminar de revisão tarifária, divulgada pela agência reguladora Arsesp na noite anterior.

As siderúrgicas e a Vale (2,01%, a R$ 43,15) também pegaram carona no entusiasmo local e encerraram com importantes ganhos, enquanto os bancos não ficaram para trás, com o Banco do Brasil subindo 2,37%, a R$ 35,42.

Para Fernando Barroso, chefe de produtos estruturados da CM Capital Markets, o exterior impulsionou de tal forma o Ibovespa que ele teve condições de avançar mais de mil pontos entre a mínima e o fechamento do dia.

“Há muita liquidez no momento lá fora e o Brasil tem um ambiente que está mostrando bons fundamentos. O nosso mercado é bastante pequeno e uma entrada de recursos maior tem um efeito significativo”, diz. “E tenho ressaltado que a melhora da governança da Petrobras traria um ganho consistente para a companhia, que se aproveitou [ontem] do debate sobre [a possível resolução da] cessão onerosa.”