Por Chrystiane Silva e Juliana Machado – Valor Econômico

O cenário internacional levou os investidores a ampliarem as ordens de venda de ações na bolsa de valores. O Ibovespa encerrou o pregão com queda de 1,26%, aos 74.443 pontos, mas ainda acumula alta de 5,09% no mês e de 23,60% ano. Por ora, analistas consideram o movimento de baixa pontual e não veem mudanças nas perspectivas positivas para o mercado de ações, ancoradas pela queda dos juros e pela retomada gradual do crescimento econômico.

As ações com o pior desempenho são justamente aquelas que lideram os ganhos no ano, o que reforça a tese da realização de lucros. “Esse é um movimento pontual impulsionado pelo mercado externo, mas não muda a trajetória positiva para o Ibovespa”, afirma Eduardo Roche, gestor da Canepa Asset Management. A ação preferencial classe A da Usiminas caiu 12,45%, a maior queda do dia e ficou em R$ 8,19. Só em setembro, a ação da Usiminas acumula alta de 19,45% e, no ano, de 105%.

A empresa tem sido um veículo preferencial de exposição à retomada da economia brasileira. A siderúrgica fabrica aços planos que têm ligação ao aumento do consumo – o primeiro setor, em geral, a se recuperar. A Usiminas é, portanto, o que analistas chamam de “papel com beta alto”, que acompanha as oscilações do Ibovespa – para baixo ou para cima – com uma intensidade muito maior do que a do índice.

O movimento de realização de lucros do Ibovespa ganhou força depois que o ministro das Relações Exteriores da Coreia do Norte, Ri Yong Ho, afirmou que o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, declarou guerra contra o país e que Pyongyang se reserva o direito de tomar medidas, entre elas derrubar aviões americanos mesmo que não estejam sobrevoando o espaço aéreo norte-coreano.

A espera pela fala da presidente do Federal Reserve, Janet Yellen, prevista para hoje, também reforçou o clima de cautela. Yellen vai discursar em um evento que tratará de política monetária, no qual poderá dar mais informações sobre as perspectivas de elevação dos juros. O Fed sinalizou na reunião da semana passada que pode elevar a taxa de juros americana até o fim deste ano, o que não favorece a aplicação em ativos de risco.

Ainda no cenário externo, os investidores acompanharam a repercussão das eleições na Alemanha. Parte deles avalia que o avanço da extrema direita, a despeito da vitória do partido da chanceler Angela Merkel, suscita menor exposição ao risco. Na França, o porta-voz do governo afirmou que as eleições para o Senado representaram um fracasso para o partido República em Marcha!, do presidente centrista Emmanuel Macron, o que pode comprometer as reformas constitucionais.

Entre as ações mais negociadas do Ibovespa, as maiores quedas ficaram com os papéis das companhias siderúrgicas. As ações preferenciais da Gerdau Metalúrgica caíram 5,07% e as ordinárias da CSN recuaram 3,29%. O setor financeiro foi outro destaque negativo. As ações do Banco do Brasil recuaram 1,42%, a R$ 34,80, mesmo depois de o UBS ter elevado a recomendação para o banco de “neutra” para “compra” e subido o preço-alvo dos papéis de R$ 35 para R$ 44,50. Já as ações da Petrobras fecharam em alta, seguindo o movimento de valorização do preço do petróleo no mercado internacional. (Colaborou Renato Rostás).