Por Rodrigo Polito e Camila Maia – Valor Econômico

25/01/2019 – 05:00

O presidente da Eletrobras, Wilson Ferreira Júnior, vai iniciar as discussões com o novo ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque, sobre o total de participação da União que será diluído dentro do plano de capitalização da empresa. Ainda não está claro se o novo plano resultará na venda do controle da elétrica, mas o executivo, defensor da privatização, pretende mostrar ao governo que a desestatização trará mais valor para as ações da companhia que ficarão nas mãos da União.

“Nunca tratamos da diluição [da participação da União na Eletrobras]. Vamos começar a tratar agora. Que vai haver uma diluição não tem dúvida”, afirmou Ferreira ao receber o Valor no novo escritório da empresa, no centro do Rio.

Segundo o executivo, a ideia é mostrar ao ministro que o plano que prevê a perda do controle da empresa pela União, a partir da criação de uma corporação, com “golden share” e limitação de concentração por acionistas é o que vai valorizar mais as ações do governo na companhia.

Não há, contudo, decisão sobre a privatização, nem sobre o destino dos recursos que serão obtidos com a capitalização da companhia. “É uma definição que será tomada. Cada uma [definição] tem uma perspectiva de valor. Para quem está valorizando o ‘stock’ [ação da empresa] e não vai participar do processo de capitalização, vai ser passivo, certamente a operação em que você tem a perda de controle valoriza o seu ‘stock’. A outra, não”, completou Ferreira.

“Antes de avançar com o processo de capitalização, vamos definir para onde vai o dinheiro, definir qual será a aplicação para informar os investidores”, afirmou ele, admitindo que o valor das ações da companhia será maior se a União for diluída para menos de 50% do capital da companhia, configurando a privatização.

Embora uma decisão nesse sentido ainda não tenha sido tomada, o executivo lembrou que Albuquerque declarou que vai priorizar a solução do risco hidrológico (medido pelo fator GSF, na sigla em inglês), tanto no mercado livre quanto no regulado. Nesse caso, a saída passa pela revisão do modelo de energia cotizada – elemento que justificou os planos iniciais de privatização da companhia, anunciados em 2017.

Em 2012, a então presidente Dilma Rousseff publicou a medida provisória (MP) 579, com o objetivo de baixar as tarifas, e a Eletrobras teve a energia de suas usinas mais antigas, cujas concessões estavam vencendo, transformadas nas chamadas cotas de garantia física e potência, com uma receita que cobre apenas os custos de operação e manutenção dos ativos. A ideia, em 2017, era usar os recursos da capitalização para pagar uma outorga e “descotizar” essa energia, que passaria a ser descontratada e negociada livremente no mercado livre, ou em contratos de longo prazo com as distribuidoras.

A estratégia seria aproveitar o interesse do ministério de resolver o problema do GSF para destravar também a descotização. Além de melhorar o faturamento da Eletrobras, a medida seria benéfica aos consumidores, uma vez que o GSF das cotas tem seu custo totalmente repassado por meio da tarifa, e chegou a custar R$ 20 bilhões no último ano.

“O que é importante colocar é que no tema da cota, além do benefício que se pode verificar para o consumidor, você tem a perspectiva de a Eletrobras melhorar de condição”, disse Ferreira.

Segundo o executivo, a expectativa é que o modelo da capitalização seja definido ainda no primeiro semestre. A partir da definição, a companhia levará no máximo nove meses para preparar a operação. Ele contou que tem se reunido semanalmente com o ministro e sua equipe, a fim de afinar esses planos.

O presidente da Eletrobras contou ainda que o processo de escolha do novo diretor financeiro e de relações com investidores da companhia, que deverá ser anunciado em fevereiro, teve como base a meritocracia. Segundo Ferreira Júnior, o substituto de Armando Casado será um funcionário da companhia.

“Ele [ministro Bento Albuquerque] me pediu que a gente colocasse [as pessoas] de forma meritocrática”, disse.

A meritocracia, explicou, também será adotada no caso de eventuais mudanças em presidências das subsidiárias do grupo.

“Pretende-se ter uma evolução da governança do país, começando pelos ministros e pela escolha dos dirigentes das empresas.”

Ferreira afirmou ainda que foi realizada uma avaliação dos integrantes do conselho de administração e das diretorias das empresas da Eletrobras por uma entidade independente. “[A avaliação] foi uma demanda do próprio conselho e da própria lei [das estatais] para que pudéssemos fazer um debate sobre governança e, obviamente, as mudanças que vamos fazer vão refletir esse tipo de objetivo, que é o de melhorar ainda mais a governança da companhia.”

Com relação ao conselho de administração, o executivo contou que podem haver mudanças pontuais. Ele, porém, afirmou que o presidente do conselho, José Monforte, deve permanecer no cargo.

No fim de 2018, a Eletrobras deixou o tradicional endereço na avenida Presidente Vargas e passou a funcionar no novo escritório central, no edifício Mario Bhering – em homenagem ao engenheiro considerado um dos principais nomes da história do setor elétrico brasileiro, fundador da Cemig e que presidiu a Eletrobras por duas vezes.

Antiga sede do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), situado na rua da Quitanda, o edifício pertence à Fundação Eletros. A Eletrobras prevê uma economia de R$ 2,2 milhões mensais com custos de aluguel, com a mudança.

Segundo Ferreira, a alteração do endereço também marca o novo momento da Eletrobras. Saneada, em pouco mais de dois anos a companhia reduziu seu nível de endividamento medido pela relação entre dívida líquida e Ebitda (sigla em inglês para resultado antes de juros, impostos, depreciação e amortização) de cerca de 9 vezes para 3,3 vezes, segundo dados do fim de setembro. Os resultados de 2018 ainda não foram divulgados, mas a tendência é que chegassem à meta de alavancagem de 3 vezes.

Outro destaque da gestão foi venda das seis distribuidoras de energia que causavam perdas bilionárias à companhia. No mesmo período, o total de funcionários do grupo foi reduzido de 26 mil para cerca de 14 mil, com uma economia de R$ 2,8 bilhões

“A empresa, pouco a pouco, em dois anos, teve uma mudança expressiva. A nova casa simboliza isso”, disse Ferreira, lembrando que nos últimos dois anos, o valor de mercado da Eletrobras cresceu em cinco vezes, totalizando R$ 46,751 bilhões (com base no fechamento de ontem)