Pedro Grigori e Júlia Campos – Correio Braziliense

25/10/2017 06:00

A solenidade da assinatura do convênio ocorre durante feira que discutirá uso consciente da água. Reservatório está abaixo dos 9% e Adasa ainda avalia plano de racionamento de dois dias

“Decidir que não vamos poder mais usar água não vai resolver a crise pela qual passamos. Pelo contrário, vai gerar um colapso no setor. Várias pessoas dependem da renda de um pé de alface para colocar comida na mesa. Além do problema que vai ser a falta de geração de emprego” Rosany Jakubowski, produtora de flores

A Secretaria de Agricultura e Desenvolvimento Rural do Distrito Federal (Seagri-DF) assina, hoje, convênio com a Fundação Banco do Brasil para investimento de cerca de R$ 1 milhão na revitalização da Bacia Hidrográfica do Alto Rio Descoberto. A solenidade ocorrerá durante a 3ª edição do PecBrasília, um dos dois eventos de agricultura e pecuária que o DF recebe nesta semana. Devido à atual crise hídrica, as feiras destacam o uso consciente de água na irrigação no setor agrícola, que, segundo boletim da Agência Nacional das Águas (ANA), é responsável pela utilização de cerca de 72% da água consumida no Brasil.

Com o montante que virá do convênio, a Seagri-DF espera reabilitar 224 áreas de preservação permanente (APP) e 222 nascentes até o fim do próximo ano. O investimento vem no momento em que os reflexos da crise hídrica começam a ser sentidos com mais força entre os produtores. Resolução da Agência Reguladora de Águas, Energia e Saneamento Básico do Distrito Federal (Adasa) proibiu que os agricultores outorgados captem água bruta nos dias pares. Foi a terceira restrição nos últimos dois anos.

Devido às normas, atualmente, os produtores só podem captar 25% do limite que foram autorizados, segundo o secretário de Agricultura, Argileu Martins da Silva. “Até agosto, de maneira geral, havíamos contabilizado prejuízo de 30% na produção do DF. Se ficarmos sem chuva por mais 15 dias, esse número crescerá mais ainda, com maior intensidade entre os produtores de hortaliças”, afirma.

Argileu destaca ainda que a responsabilidade imputada ao setor agrícola pela crise hídrica é injusta. Nas últimas semanas, segundo a Caesb, a água dos córregos que abastecem Brazlândia e Planaltina, que são utilizados para agricultura, foi captada antes que chegassem às bombas da companhia, o que causou desabastecimento nas moradias da região. “O DF tem uma enorme ação de ocupação desordenada. Construção e moradias em área de recarga de lençol freático são prejudiciais, pois impermeabilizam o solo, aí vem a seca e os rios diminuem no primeiro mês. Os agricultores sabem que dependem da água, então a maioria deles tem consciência e a preserva”, defende o secretário.

Rosany Jakubowski, 50 anos, produz flores na área rural de Brazlândia. Na família, ela é a terceira da geração de produtores na mesma propriedade. Com as resoluções da Adasa, que restringem cada vez mais o consumo de água na região, Rosany acredita que os agricultores da Bacia do Descoberto correm sério risco de decretar falência. “Decidir que não vamos poder mais usar água não vai resolver a crise pela qual passamos. Pelo contrário, vai gerar um colapso no setor. Várias pessoas dependem da renda de um pé de alface para colocar comida na mesa. Além do problema que vai ser a falta de geração de emprego. A base da economia da nossa cidade é a produção rural”, destacou. Ela, que mora na região há 49 anos, diz que esse problema vinha sendo anunciado havia, pelo menos, 25. Mas ninguém acreditou que a situação pudesse chegar a esse ponto.

Modernização

A partir de hoje, a terceira Mostra Tecnológica da Pecuária do Distrito Federal e da Região Integrada de Desenvolvimento do Distrito Federal e Entorno (Ride), a PecBrasília, começa no Parque de Exposições Agropecuárias Granja do Torto. O evento reunirá, aproximadamente, 150 criadores dos seguintes segmentos: bovinocultura de leite e de corte, equideocultura, ovinocultura e caprinocultura. Nesta edição, também será abordada a questão da crise hídrica. Para Adriano Varela, presidente Associação dos Criadores de Guzerá e Guzolando do Brasil, uma das realizadoras do evento, Brasília é uma vitrine. “Tudo que é feito aqui tem grande repercussão”, destaca.

Além do investimento financeiro, a Seagri oficializa no evento a utilização de duas motoniveladoras, uma retroescavadeira, dois caminhões e dois caminhões-pipa na melhoria das estradas rurais próximas a áreas de rios.

Amanhã, o debate continua na sede da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), com o seminário Discutindo a irrigação localizada. O evento conta com presença de especialistas para debater a utilização racional da água, princípios de irrigação localizada, avanços tecnológicos e alguns casos de sucesso na cultura do tomate, na produção de frutas e de grãos.

De acordo com o assessor técnico da Comissão de Meio Ambiente da CNA, Gustavo Goretti, algumas novas aplicações ainda são desconhecidas por parte dos irrigantes e dos profissionais que atuam na área. “Nesse sentido, o seminário busca apresentar as novas opções e fomentar a discussão sobre o tema”, afirma.

Anote

3ª PecBrasília 2017

Quando: 25 a 29 de outubro

Onde: Parque de Exposições Agropecuárias Granja do Torto

Horário: das 8h às 17h

Entrada franca

Seminário Discutindo a irrigação localizada

Quando: quinta-feira

Onde: Sede da CNA, SGAN Quadra 601, Módulo K

Hora: das 8h30 às 13h

Informações sobre inscrições: (61) 2109-1400