Por André Ramalho e Bruno Villas Bôas – Valor Econômico

Desde meados de 2017, quando a Petrobras passou a reajustar os preços diariamente e o governo aumentou a carga tributária sobre o setor, os preços da gasolina subiram cerca de 20% para o consumidor final. Com o aumento, o Brasil se consolida no posto de uma das gasolinas mais caras dentre os países produtores de petróleo, enquanto União, Petrobras, distribuidoras e revendedores tentam se dissociar da escalada dos preços dos combustíveis na bomba.

Levantamento da consultoria Air-Inc, que consolida estatísticas globais de custo de vida e mobilidade, mostra que a gasolina vendida nos postos brasileiros é a segunda mais cara dentre os 15 países que mais produzem petróleo no mundo.

De acordo com a pesquisa, obtida pelo Valor, a gasolina é vendida no Brasil a US$ 1,30 por litro (considerando câmbio de R$ 3,3 e preço médio de R$ 4,28). No ranking dos maiores produtores de petróleo, só não é mais cara que o combustível vendido na Noruega.

Hoje, a estatal começa a adotar nova estratégia de divulgação de reajustes nas refinarias. A companhia passará a divulgar, junto com as variação percentual diária, o preço médio do litro da gasolina e do diesel nas refinarias. A intenção é deixar claro que os preços praticados nas refinarias correspondem a 1/3 dos preços na bomba.

Na semana retrasada, distribuidoras e postos entraram no centro de um embate com o governo, que pediu ao Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) para investigar possível formação de cartel no setor. O presidente Michel Temer chegou a acusar publicamente as empresas da cadeia de distribuição e revenda de não repassarem ao consumidor as baixas nos preços nas refinarias.

O presidente da Associação Nacional das Distribuidoras de Combustíveis, Lubrificantes, Logística e Conveniência (Plural, ex-Sindicom), Leonardo Gadotti, alega que as margens das atividades de distribuição, logística e revenda caíram 7% desde meados de 2017. “O preço na refinaria tem tido altos e baixos, mas na média subiu mais do que caiu.”

Ele contesta a pressão feita pelo governo e explica que a carga tributária é o fator mais relevante na composição dos preços dos combustíveis. Gadotti lembra também que, em 2017, a alíquota do PIS/Cofins subiu de R$ 0,3816 para R$ 0,7925 para o litro da gasolina e de R$ 0,2480 para R$ 0,4615 para o diesel nas refinarias. Houve, ainda, aumento de ICMS nos Estados.

Para o sócio-diretor da consultoria de pesquisa de mercado Triad Research, Miguel Santos, postos têm optado muitas vezes por não repassar as quedas ao consumidor devido ao aumento das incertezas operacionais. Segundo ele, as empresas ainda vivem uma curva de aprendizado em relação aos reajustes diários da Petrobras.

Os reajustes diários dificultam o planejamento de capital de giro dos postos, diz Santos. A incerteza sobre um eventual aumento nos dias seguintes faz com que a empresa segure o repasse, porque não sabe qual será seu caixa para encomendar uma futura carga.

De acordo com dados da Air-Inc, nos EUA a gasolina comum custa quase a metade da vendida no Brasil. Tom Kloza, chefe de análise de energia da consultoria Opis, da IHS Markit, comenta que a gasolina americana é mais barata por ter menos impostos. De acordo com a Agência Internacional de Energia (EIA, na sigla em inglês), a carga de impostos ao consumidor, na gasolina americana, é de 19%.

A gasolina mais barata entre os grandes produtores – e também no mundo, considerando 198 países – é a da Venezuela. Grandes produtores associados à Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) também figuram entre os países com a gasolina mais barata, como Kuait e Irã. “Nos países da Opep os preços são ainda menores como resultado de um subsídio patrocinado pelo Estado”, disse Kloza. “A tendência tem sido de reduzir esses subsídios.”