Por Juliano Basile – Valor Econômico

O Fundo Monetário Internacional (FMI) elevou a previsão do PIB brasileiro para 0,7% neste ano. O percentual coincide com o consenso de mercado, de acordo com o boletim Focus, do Banco Central, e corresponde a um aumento de 0,4 ponto percentual com relação à projeção feita em julho pelo próprio FMI. Para 2018, a expectativa do Fundo subiu 0,2 ponto (era de 1,3% em julho) para 1,5%. A previsão difere bastante do consenso de mercado, segundo o Focus, que é de crescimento de 2,43%.

As projeções do FMI estão no relatório “Panorama da Economia Mundial” (WEO, na sigla em inglês), divulgado ontem. As projeções recentes indicam muita incerteza do FMI sobre o desempenho da economia brasileira em 2018. O Fundo saiu de uma perspectiva de crescimento de 1,7%, em abril, quando contava fortemente com a aprovação da reforma da Previdência, para 1,3%, em julho, quando essa hipótese tornou-se mais remota. Agora, a estimativa foi ajustada para um meio termo: 1,5%.

Oya Celasun, chefe da Divisão de Estudos Econômicos Mundiais do Fundo Monetário Internacional (FMI), afirmou que a instituição vê o fim da recessão no Brasil. No entanto, há incertezas sobre a condução econômica no futuro. “Tivemos dois trimestres consecutivos de crescimento. Então, o Brasil parece estar num momento de virada”, disse. No campo fiscal, Oya

disse que é preciso mais solidez. “O teto de gastos foi passo bastante importante nesta direção”, ressaltou. “O próximo passo importante é aprovar a reforma da Previdência em tempo razoável, sem muitas diluições”.

No relatório, o FMI advertiu que os investimentos ainda fracos e o aumento da incerteza política pesaram na previsão para 2018. De acordo com a instituição, o Brasil precisa obter uma “restauração gradual de confiança” para chegar ao crescimento de 2% do PIB no médio prazo. Para que isso ocorra, o Fundo considera importante a aprovação de reformas que garantam “a sustentabilidade fiscal ao longo do tempo”.

Já a recuperação da economia brasileira neste ano é vista como certa. O Fundo destacou o fato de o país ter entrado em crescimento positivo na primeira metade do ano e mencionou alguns fatores como responsáveis, como a colheita agrícola, e o impulso para o consumo dado pela liberação de saques nas contas de FGTS. “No Brasil, o forte desempenho das exportações e a diminuição do ritmo da contração na demanda doméstica permitiram que a economia retornasse ao crescimento positivo no primeiro trimestre de 2017, após oito trimestres de declínio”, constatou o Fundo.

Entre as recomendações que o FMI fez ao país está a de combater as despesas públicas insustentáveis. O relatório também ressalta que mudar o sistema de previdência para reduzir despesas “é de importância de primeira ordem para restaurar a forte confiança e promover o crescimento sustentado de investimentos privados”.

O organismo enfatizou a necessidade de resultados para atrair investimentos em infraestrutura. “A falta de uma infraestrutrura adequada é uma barreira-chave ao crescimento e desenvolvimento, especialmente em países da América Latina”, diz o relatório. “No Brasil, os esforços em curso para tornar o programa de concessões em infraestrutura mais atrativo aos investidores, ao mesmo tempo em que se aperfeiçoam os padrões de governança e o desenho desses programas, ajudariam a aliviar os principais gargalos e a apoiar a demanda de curto prazo.”

O Fundo também destacou a queda da inflação no Brasil. “A desinflação tem sido mais rápida do que o esperado em alguns países, como o Brasil, a Índia e a Rússia, o que permitiu uma política monetária mais relaxada nos últimos meses”, afirma o relatório.

A entidade verificou que em muitos países emergentes e em economias em desenvolvimento, a diminuição dos efeitos de passagem de depreciações cambiais e, em alguns casos, as apreciações recentes em relação ao dólar ajudaram a obter taxas moderadas de inflação. Nesse ponto, o relatório faz uma menção mais forte ao Brasil e atribui a queda da inflação no país ao excesso de capacidade ociosa após dois anos de recessão.

Ao analisar a apreciação das moedas de países emergentes ante o dólar, o FMI destacou o México, onde o peso teve valorização de 10%, entre março e agosto, após a queda das preocupações em relação às renegociações de acordos de comércio com os Estados Unidos. O Brasil teve queda de 4% do real no período devido a preocupações com o andamento das reformas. Na Rússia, o rublo caiu em taxas similares em função de preços ainda baixos de petróleo.

“Os índices de inflação no Brasil e na Rússia deverão cair de maneira mais rápida do que se esperava em abril passado, refletindo efeitos fortes de um hiato do produto [a diferença entre o que se está produzindo e o que se poderia produzir] negativo, apreciações nas moedas e choques favoráveis de demanda nos preços dos alimentos”, diz o texto.

Por fim, o FMI reduziu a probabilidade de recessão ao longo do quarto trimestre deste ano em vários países. No grupo estão também Japão, Chile, Colômbia, México, Peru e países da zona do euro.