Por Gabriel Vasconcelos e Juliana Schincariol – Valor
26/04/2019 – 05:00

Sobram recursos no mundo para investir em infraestrutura no Brasil, mas a falta de um calendário consistente de projetos no país afasta a iniciativa privada, na visão de executivos que se reuniram ontem em evento do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) para discutir o tema. Estudo da consultoria McKinsey, feito a pedido do banco, confirma essa visão. O levantamento concluiu que a falta de continuidade de projetos e baixa continuidade crônica são os maiores gargalos da construção civil no Brasil. Seria necessário mais do que dobrar os investimentos no setor em 20 anos para chegar à média global.

A infraestrutura é fundamental para a retomada da economia, também pelo elevado número de empregos que gera, na visão do presidente do BNDES, Joaquim Levy. Para o executivo, o Programa de Parcerias de Investimento (PPI) é uma estrutura criada que teve “boa dose de sucesso”, citando os casos das distribuidoras estaduais de energia elétrica. “Esse é o modelo que queremos”, afirmou. Criado em 2016, no formato de secretaria especial, o PPI contará com subsídio técnico do BNDES na preparação de projetos de parcerias público-privadas (PPPs) e privatizações.

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1. ‘O BNDES precisa criar um novo modelo de negócio’ “Estados e municípios não fazem PPPs porque não têm pessoal ou capacidade técnica para a preparação de bons projetos”, afirmou o secretário do PPI, Adalberto Vasconcelos. Medidas para melhorar esse ponto já vêm sendo tomadas, disse ele. O grupo de governança vem tentando aumentar seu escopo além de aproximação com Estados e municípios. Também foi criada uma secretaria de apoio a licenciamento ambiental.

Embora a participação de fundos de investimento em obras de infraestrutura seja uma prática relativamente recente, o setor é o que mais cresce na carteira dessas estruturas e já alcançam cerca de US$ 500 bilhões -25% dos investimentos em private equity e construção civil no mundo. “Quando conversamos com os investidores, o que se procura é segurança jurídica e um pipeline robusto de projetos”, disse o sócio da área de infraestrutura do Pátria Investimentos Felipe Pinto. Dos US$ 13 bilhões administrados pelo Pátria, US$ 5 bilhões estão em projetos de infraestrutura.

“Há muito capital ao redor do mundo, mas há poucos projetos e pouca organização de governo”, disse Levy, lembrando que uma das principais fontes de recursos são fundos de pensão internacionais. “Como muitos negócios baseados em novas tecnologias não requerem muito capital, a infraestrutura desponta como um destino”, completou. Seja como for, o novo ciclo de projetos permanecerá nas mãos das grandes construtoras, o que o diretor-executivo da Associação Brasileira da infraestrutura e Indústria de Base (Abdib), Venilton Tadini, definiu como “oligopólio natural”.

“A infraestrutura tem que crescer à frente da demanda. Estamos há 30 anos rompendo gargalos e não é assim que
funciona”, disse. Ele defendeu que projetos de infraestrutura devem seguir os modelos de “project finance non resource” (empréstimo sem garantia ou project finance puro), em vez de adotar garantias corporativas.

O estudo da McKinsey reforça a tese de que as grandes empresas terão protagonismo garantido a longo prazo no mercado nacional. Segundo as projeções, as grandes construtoras devem se especializar cada vez mais em projetos complexos, enquanto empresas de médio porte se consolidarão como opção para projetos de âmbito estadual e municipal, como iluminação, saneamento, linha de transmissão, transportes, aeroportos regionais e infraestrutura social.