Por Rodrigo Rocha – Valor Econômico

08/08/2018 – 05:00

É recorrente o setor de saneamento apontar o ambiente regulatório e a estrutura municipalizada como principais entraves para deslanchar os investimentos no setor. A leitura é verdadeira, mas um estudo da consultoria Roland Berger apontou que medidas poderiam ser aplicadas imediatamente pelas principais operadoras do país para destravar bilhões, sem a necessidade de mudanças legais.

O levantamento avança em um estudo desenvolvido no primeiro semestre, que apontava que cerca de R$ 20 bilhões por ano poderiam ser gerados apenas com maior eficiência. O montante é aproximadamente três vezes o investimento atual das empresas analisadas.

“O que queríamos é entender, no contexto atual, sem mudar nenhuma regra, o que daria para fazer”, explica Gustavo Lopes, sócio de infraestrutura da Roland Berger e responsável pelo estudo.

O maior montante, algo entre R$ 7,9 bilhões e R$ 11,7 bilhões, viria da redução das perdas de água, um problema comum em diversas operações. Entre as companhias que poderiam avançar nesse sentido estão Sabesp (SP), Copasa (MG), Cedae (RJ), Embasa (BA), Compesa (PE), Corsan (RS) e BRK Ambiental. Lopes explica que utilizou como parâmetros melhores práticas brasileiras e internacionais de perdas. “Mesmo se pegássemos como meta as melhores práticas nacionais, teríamos um potencial gigantesco.”

No caso das perdas, o grande potencial é explicado pelo tamanho das companhias incluídas na estudo. Uma redução de um ponto percentual no volume de água perdido em companhias que faturam bilhões por ano, como Copasa e Sabesp, representam também um montante importante disponível para investimentos.

O Brasil tem um alto índice de perdas de água mesmo em relação aos países em desenvolvimento. Segundo dados do Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento (SNIS) de 2016, a média brasileira de perdas é de 37%. Em países como China e Rússia, a perda é de 21%. Nos Estados Unidos e no Canadá o indicador está na casa dos 10%. Entre as piores operações do setor, o levantamento aponta a Caer (RO) e a Cosama (AM) com perdas de 67% e 62%, respectivamente.

O Brasil tem um alto índice de perdas de água mesmo em relação aos países em desenvolvimento Outra questão a ser corrigida é a da inadimplência, que atinge de maneira diferente as companhias. O estudo aponta Cedae, Embasa e Compesa como as principais afetadas. Nas contas da Roland Berger, a economia seria de aproximadamente R$ 1,1 bilhão, caso as empresas se aproximassem das médias nacionais.

A inadimplência, porém, é uma questão de solução mais complexa para as empresas, pois, em parte significativa dos casos, os maus pagadores são os entes públicos. “Ir ao poder público e dizer ‘pague o que me deve’ pode não ser a melhor maneira em casos em que o governo está parcelando até o salário dos servidores. O que se pode eventualmente fazer é procurar soluções financeiras, securitizar, por exemplo”, afirma Lopes

Na linha de custos, a consultoria destaca eficiência energética como um dos caminhos, apontando potencial de ganho de R$ 200 milhões. Um ponto delicado, mas com potencial de ganhos é a otimização de custos com pessoal, que poderia levar a um ganho de R$ 1,4 bilhão em companhias como Casan (SC), Caesb (DF), Corsan e Saneago.

“Dá para atuar de duas formas, uma mais direta é a adoção de programas de demissão voluntária, incentivada, aposentadorias antecipadas. Sempre seguindo preceitos legais e criando um incentivo para o funcionários”, explica Lopes.

“A segunda questão é a produtividade. É entender como se pode, com os profissionais que as empresas já tem, sem mexer no quadro, produzir mais, servir melhor a população.”

Em valores absolutos, as empresas com maior potencial são a Cedae, capaz de destravar R$ 3,6 bilhões no total, e a Sabesp, com R$ 2,6 bilhões. Em relação ao investimento realizado em 2017, os principais destaque são a Cosama, com capacidade de desbloquear 52 vezes o investido no ano passado, e a Caerd (RO), que poderia ampliar 41 vezes seus investimentos.

Lopes destaca que, diferentemente do que sugeriria o lugar-comum, os ganhos de eficiência seriam possíveis não apenas nas empresas públicas, enxergando muito potencial nas companhias privadas. “Não parece haver nenhuma diferença relevante. De uma forma geral, as que tem maior potencial tendem a ser empresas públicas, mas tem mais a ver com o tamanho das companhias.”