Por Sergio Adeodato – Valor Econômico

23/03/2018 – 05:00

“O risco relacionado à água deve estar no mais alto nível de gestão das empresas”, afirma Leonardo Ribeiro, analista de meio ambiente da ArcelorMittal Brasil, produtora de aço que tem o recurso hídrico como importante insumo, ao lado do minério e da energia. Ele conta que a empresa sofreu com a crise hídrica de São Paulo, ao depender da captação no rio Piracicaba que, em função do volume reduzido, apresentava baixíssima qualidade para uso nas operações industriais.

“A confiança da sociedade é essencial para o partilhamento do recurso natural”, completa Ribeiro, informando que a empresa fez mapeamento de riscos envolvendo fornecedores e tomou a decisão de diversificar as fontes de abastecimento. Ele cita a Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico, que prevê alto crescimento da demanda hídrica até 2050 e enfatiza que a crise é mais institucional do que propriamente de disponibilidade de água.

“Atuamos basicamente na região litorânea, onde é grande o desafio de conciliar os usos da água”, afirma Carlos Gonzales, gerente de biodiversidade e recursos hídricos da Petrobras, que em 2007 começou a padronizar as informações sobre uso de água e descarte de efluentes.

O objetivo foi elaborar um inventário anual para subsidiar ações de melhoria e engajar as unidades da companhia para a gestão do recurso. O trabalho incluiu a criação do Índice de Escassez Hídrica, que permite resposta rápida a problemas e análise comparativa de dados entre as suas diversas instalações, principalmente as de refino, que consomem no total 60% da água captada de 175 fontes de abastecimento. Com base no indicador, foi elaborado plano com 40 ações contra riscos.

Para Keyvan Macedo, gerente de sustentabilidade da Natura, “estamos longe de perceber o valor da água, que só aparece mais claramente na dor”. A empresa adotou a estratégia de medir o estresse hídrico ao longo de todo o ciclo de existência do produto, desde o fornecimento de matéria-prima, concluindo que apenas 0,9% da pegada está na produção industrial. A maior fatia do consumo de água (97%) se refere ao uso dos produtos pela sociedade. Como solução, foi criada uma estratégia baseada na conservação de bacias hidrográficas, acesso a saneamento, eficiência hídrica e educação para maior conscientização e engajamento do consumidor.

Empresas começam a fazer estudos de disponibilidade hídrica de longo prazo, com a tendência de que também o sistema financeiro incorpore indicadores para estimular o uso sustentável, fomentando mudanças por meio das políticas de crédito. “Há várias oportunidades de engajamento em curso”, ressalta Jason Morrison, presidente do The CEO Water Mandate, organização internacional com uma plataforma reunindo mais de 140 empresas compromissadas a medir riscos e impactos hídricos, fazer parcerias e seguir novos caminhos para uso do recurso, com base em indicadores.

Entre os espaços de engajamento está o Business Alliance for Water and Climate, que mobiliza negócios para melhorar o acesso à água, o saneamento e a higiene no local de trabalho, nas comunidades e nas cadeias de suprimento. Já o ContextBased Water Targets se destina a auxiliar empresas a criar metas para endereçar as múltiplas dimensões do risco hídrico.