Por Rafael Bitencourt, Cristiane Bonfanti e Daniela Chiaretti – Valor Econômico

19/03/2018 – 05:00

Nas proximidades das eleições de 2018, lideranças empresariais que participaram do Water Business Day, ontem em Brasília, defenderam que o cuidado com os recursos hídricos seja incorporado tanto na agenda política brasileira quanto na do setor produtivo. Entre os desafios urgentes apresentados pelos empresários está não apenas o acesso à água, mas também o saneamento básico – num país onde 34 milhões de pessoas, ou 17% da população, não têm acesso à rede de abastecimento de água e 89 milhões, ou 43% da população, não são atendidos por sistemas de tratamento de esgoto.

“No Brasil temos vários assuntos para trabalhar, mas a questão da água nós precisamos colocar na pauta de nossos governantes”, afirmou o presidente do Conselho Nacional de Meio Ambiente e Sustentabilidade da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Marcos Guerra, no evento ligado ao 8º Fórum Mundial da Água.

Para Guerra, além da discussão política, os empresários precisam se engajar na troca de experiências para reduzir o risco de que “eventos extremos” relacionados ao abastecimento possam ter impacto na atividade econômica. Episódios no Brasil relacionados à falta de água, como racionamentos no Estado de São Paulo e no Distrito Federal, foram citados pelos executivos no evento.

Oscar de Moraes Cordeiro Netto, diretor da Agência Nacional de Águas (ANA), disse que, dentro da agência, um dos maiores desafios para os próximos anos também diz respeito ao saneamento básico. De acordo com ele, está em curso uma discussão para oferecer à ANA um papel mais importante nessa área, inclusive por meio da elaboração de diretrizes gerais para o setor. “É uma tarefa complexa que temos pela frente”, afirmou o diretor. Para ele, o tema “águas” deve subir “alguns degraus” na discussão política.

Para a presidente da BRK Ambiental, Teresa Vernaglia, somente com a inclusão da discussão sobre recursos hídricos na agenda política será possível viabilizar os R$ 20 bilhões anuais necessários para a universalização do acesso à água e ao saneamento básico. “Precisamos dar mais visibilidade para o tema saneamento como forma de mitigar a escassez de água”, disse Teresa. “Não consigo imaginar um país que tenha restrição hídrica jogando milhões de litros de esgoto bruto nos nossos rios”, completou a executiva.

No âmbito regulatório, a presidente da BRK Ambiental – antiga Odebrecht Ambiental – também falou das dificuldades jurídicas enfrentadas pelo setor. Segundo ela, os contratos são assinados para um horizonte de 30 anos e a instabilidade regulatória pode produzir paralisia na universalização do saneamento no Brasil. Ela alertou, ainda, que a quantidade de pessoas no país que não tem acesso a água tratada equivale à população do Canadá e que a perda de água “chega a sete Cantareiras por ano”.

No que diz respeito ao uso da água no processo produtivo, Naty Barak, principal executivo global da área de sustentabilidade da empresa de irrigação Netafim, disse que mais de 70% da irrigação nas culturas no mundo é por inundação. Ele defendeu parcerias com empresas da área de bebidas e alimentos e com a indústria da confecção para mudar esse cenário. Ele sugeriu, por exemplo, que a Levi’s compre algodão apenas de agricultores que façam irrigação por gotejamento. “Temos de convencer o mundo a utilizar água na irrigação de modo mais eficiente”.