Por Francisco Góes, Juliana Schincariol e André Ramalho – Valor Econômico

10/04/2018 – 05:00

O novo presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Dyogo de Oliveira, indicou que deve rever decisões recentes tomadas pelo seu antecessor, Paulo Rabello de Castro, que deixou o cargo para concorrer à Presidência da República pelo PSC. Ontem, ao tomar posse na sede do banco, no Rio, em cerimônia com a presença do presidente Michel Temer, Dyogo afirmou que vai revisar o planejamento estratégico do banco recentemente anunciado por Rabello.

“Da revisão sairão novas metas, novas diretrizes e novo direcionamento do banco”, afirmou Dyogo. Ele disse, porém, que a revisão será feita com “serenidade” e sem “açodamento”. Outra medida planejada pelo novo presidente do BNDES, e já antecipada pelo Valor, será o retorno dos diretores do banco às áreas originais. Antes de deixar a instituição, Rabello havia feito uma “dança das cadeiras”, mudando os diretores de posição.

Dyogo disse que pediu aos diretores do BNDES que continuem trabalhando “normalmente” até que se faça uma avaliação detalhada da estrutura do banco. Após a posse ontem, Dyogo respondeu rapidamente a perguntas da imprensa, mas preferiu não comentar o plano de Rabello de abrir representações do BNDES nos 27 Estados. “O que é importante é que o BNDES precisa estar mais próximo do cliente. Vamos ser mais ativos, buscar os clientes. Teremos uma ação mais propositiva.”

No discurso de posse, Dyogo defendeu a ideia que na “era do juro baixo” o BNDES passará a tratar todas as empresas como clientes que precisam de “agilidade e eficiência” e não como alguém que recebe um “benefício”, afirmou, em referência aos subsídios embutidos nas taxas de juros do banco, na época da TJLP. Hoje uma taxa em extinção a TJLP foi substituída nos novos contratos, a partir de janeiro, pela Taxa de Longo Prazo (TLP).

Na visão de interlocutores do BNDES, a presença de Temer e dos novos ministros da Fazenda, Eduardo Guardia, e do Planejamento, Esteves Colnago Junior, na posse de Dyogo, no Rio, passou um sinal de que o novo presidente do banco terá “carta branca” para fazer as mudanças que entender necessárias nos cerca de nove meses que terá no comando do banco.

No discurso, Dyogo disse que o BNDES será promotor do mercado financeiro e do mercado de capitais de longo prazo, desenvolvendo novos produtos. “Temos que estar ao lado do mercado, não há motivo para haver competição [entre o BNDES e o mercado na oferta de crédito].” E acrescentou: “Se há recursos no mercado para atender uma demanda, o BNDES vai procurar outras alternativas, atuar junto com o mercado desenvolvendo novos produtos, atraindo novos investidores, ampliando [a oferta de] recursos para financiar investimentos”, afirmou.

O estímulo do banco ao mercado de capitais é um ponto que deve ser aprofundado na gestão Dyogo no BNDES, mas é algo que Rabello também havia incentivado em sua passagem de dez meses pela instituição. Rabello assumiu o banco em maio de 2017 depois que Maria Silva Bastos Marques renunciou à presidência do BNDES em meio à divulgação de conversas gravadas por Joesley Batista, um dos donos da JBS, com o presidente Temer.

Para Dyogo, no atual cenário de juros e inflação baixos, o BNDES terá um papel diferente. O banco não será “nem maior, nem menor”, mas será importante para atender às necessidades de desenvolvimento do país, que serão outras, disse Dyogo. Ele afirmou que no passado o BNDES era o único financiador de infraestrutura do país, algo que está mudando.

“O sistema financeiro privado, o mercado de capitais oferecem alternativas. Elas não atendem plenamente às necessidades, mas estão se desenvolvendo. É papel do BNDES impulsionar essas alternativas”, afirmou.

Dyogo disse que uma das reclamações que recebe de investidores é que os projetos demoram a ficar prontos para serem leiloados. “Esse é um papel do BNDES, desenvolver projetos de energia, transporte, infraestrutura urbana, saneamento, mobilidade e fazê-lo rapidamente.” Dyogo disse que muitos de seus planos para o banco já estão em curso, mas que pretende acelerar o processo para criar mais impactos na economia.