Folha de São Paulo

23/10/2017  19h15

O dólar atingiu nesta segunda (23) o maior patamar em relação ao real em mais de três meses, em um movimento de valorização também observado em moedas de outros emergentes. A Bolsa brasileira acompanhou a piora do humor em Wall Street e teve um dia de realização de lucros.

O dólar comercial subiu 1,31%, para R$ 3,232, no maior nível desde 11 de julho (R$ 3,254). Foi também a maior valorização diária desde 18 de maio, no dia seguinte à delação do empresário Joesley Batista, da JBS.

O dólar à vista avançou 0,92%, para R$ 3,215, maior patamar desde 12 de julho (R$ 3,2159).

A Bolsa brasileira teve queda de 1,28%, para 75.413 pontos.

A apreciação do dólar ocorreu em relação a 27 das 31 principais moedas do mundo. Só a rupia indiana, a libra esterlina, o won sul-coreano e o peso argentino conseguiram fechar em alta em relação à divisa americana. O real e a lira turca tiveram a maior desvalorização ante o dólar, superior a 1%.

Segundo Raphael Figueredo, sócio-analista da Eleven Financial, o movimento refletiu questões envolvendo os Estados Unidos. A principal é a expectativa de que a reforma tributária planejada pelo americano Donald Trump atraia para os Estados Unidos dinheiro que as multinacionais deixam em outros países, principalmente emergentes.

“É como se fosse uma fuga de capitais pela possibilidade de aproveitar a redução de imposto nos EUA. Se as multinacionais demorarem muito a trazer o dinheiro para os EUA, podem pegar uma cotação pior do dólar. Esse movimento de saída de dólares de volta para os EUA acaba desvalorizando as moedas globais, entre elas o real”, diz.

Na noite da última quinta (19), o Senado americano deu um passo significativo na direção da reforma tributária, ao aprovar uma resolução orçamentária que protegeria uma proposta de US$ 1,5 trilhão (R$ 4,8 trilhões) em cortes de impostos contra manobras democratas para postergar a votação.

Outra dúvida é sobre quem será o próximo presidente do banco central americano. Trump prometeu anunciar o nome do escolhido antes de sua viagem à Ásia, que começa em 3 de novembro. “Dois nomes cotados têm perfil mais agressivo [John Taylor, economista da Universidade Stanford, e Jerome Powell, diretor do Fed], o que pode significar mais aumentos de juros nos EUA”, diz Figueredo.

Essa tendência pode ganhar força principalmente após a divulgação da primeira estimativa do PIB (Produto Interno Bruto) americano no terceiro trimestre. A expectativa dos analistas consultados pela agência internacional Bloomberg é de que a economia americana cresça a uma taxa anualizada de 2,5%.

A probabilidade de aumento da taxa de juros nos Estados Unidos para a faixa entre 1,25% e 1,5% na reunião de dezembro está em 83,4% –no encontro do próximo dia 1º, a expectativa é de manutenção dos juros entre 1% e 1,25% ao ano.

CAUTELA POLÍTICA

O cenário político brasileiro também contribuiu para a valorização da moeda americana nesta segunda. Os investidores aguardam o resultado da votação da segunda denúncia contra o presidente Michel Temer na Câmara dos Deputados.

“O mercado já espera que o Temer tenha um pouco menos de apoio, que o Congresso não esteja tão forte nas mãos dele. Isso significa que as reformas não vão ser tão fortes como imaginadas”, afirma Figueredo. “Mas eu acho que os efeitos do movimento de fluxo internacional fazem com que haja uma preocupação maior com o exterior do que com os assuntos domésticos.”

Na avaliação de Marco Saravalle, analista da XP Investimentos, a desidratação da reforma da Previdência já está precificada pelo mercado. “Pelo contrário, se sair alguma coisa neste ano tende a ter uma reação positiva dos investidores. O mercado tende até a reagir bem”, diz.

Nesta segunda, a agência de classificação de risco Moody’s indicou que a aprovação de uma reforma da Previdência no Brasil com “conteúdo significativo” é “improvável”, mesmo se Temer conseguir barrar a segunda denúncia na Câmara.

“O tempo está se esgotando para a atual proposta, e o apoio para ela está diminuindo, tornando as reformas significativas improváveis, algo negativo para o crédito soberano”, afirmou a agência em nota.

O CDS (credit default swap, espécie de termômetro de risco-país) subiu 0,56%, para 171,1 pontos, interrompendo sequência de oito quedas.

No mercado de juros futuros, os contratos mais negociados tiveram um dia misto. O DI para janeiro de 2018 recuou de 7,309% para 7,292%. A taxa para janeiro de 2019 subiu de 7,240% para 7,290%.

AÇÕES

Das 59 ações do Ibovespa, 52 caíram, quatro subiram e três ficaram estáveis.

A maior queda foi registrada pelos papéis da Estácio Participações (-5,01%). A Usiminas ficou em segundo lugar, com desvalorização de 4,46%.

Na ponta contrária, as ações ordinárias da Eletrobras subiram 3,65%, enquanto as preferenciais avançaram 3,52%.

As ações da Petrobras caíram, em dia sem direção definida dos preços do petróleo no exterior, após interrupções na oferta do Iraque reduzirem as exportações do segundo maior produtor da Opep (Organização dos Países Exportadores de Petróleo) e as taxas de perfuração dos Estados Unidos mostrarem uma desaceleração.

Os papéis preferenciais da estatal caíram 0,12%, para R$ 16,20. As ações ordinárias tiveram queda de 0,30%, para R$ 16,50.

A mineradora Vale viu suas ações recuarem, em dia de desvalorização dos preços do minério. Os papéis ordinários recuaram 0,73%, para R$ 32,71. Os preferenciais perderam 1,11%, para R$ 30,33.

No setor financeiro, as ações do Itaú Unibanco recuaram 0,93%. Os papéis preferenciais do Bradesco perderam 0,95%, no oitavo dia de queda. As ações ordinárias do banco caíram 1,20%. As ações do Banco do Brasil se desvalorizaram 3,49%. As units –conjunto de ações– do Santander Brasil fecharam estáveis.