Por Lucas Hirata e José de Castro – Valor Econômico

Após um mês de setembro com alguns ruídos, relacionados sobretudo à situação política no Brasil e à política monetária americana, outubro começou relativamente calmo para os mercados domésticos de câmbio e juros. O dólar caiu 0,37% ontem, para R$ 3,1545, o que garantiu ao real o melhor desempenho do dia entre as principais moedas. O movimento ajudou a tirar das máximas do dia os juros futuros negociados na BM&F.

A dúvida que se coloca, porém, diz respeito à capacidade de os mercados sustentarem um viés positivo em meio à ausência de materialização de expectativas favoráveis do lado das reformas e diante da fragilidade adicional provocada pelos riscos de nova alta de juros nos Estados Unidos.

O “teste” mais aguardado está previsto para a semana do próximo dia 23, quando a Câmara dos Deputados votará denúncia da Procuradoria Geral da República (PGR) contra o presidente da República, Michel Temer. A informação foi confirmada ontem pelo presidente da Casa, Rodrigo Maia (DEM-RJ). A postura de Maia será especialmente monitorada até lá, uma vez que em meados de setembro o presidente da Câmara teceu duras críticas ao Planalto, o que gerou mal-estar entre as partes.

Os ruídos ocorrem enquanto o governo segue gastando energia para se manter no poder, o que acaba por deixar em segundo plano as negociações para as reformas econômicas, com destaque para a da Previdência. Por ora, os patamares dos preços sugerem que investidores acreditam que a reforma será aprovada, ainda que apenas no ano que vem. Persiste a dúvida, porém, sobre a abrangência e profundidade do que pode vir a ser acordado, conforme se aproxima o período de campanha eleitoral.

“O tempo está passando, e parece que a administração terá de aceitar uma versão diluída da reforma da Previdência, que deve exigir apenas uma maioria simples dos votos” no Congresso, aponta o economista Arthur Carvalho, do Morgan Stanley, ao lembrar ainda a tramitação da reforma política. “A dúvida é se os mercados estão dispostos a esperar um novo presidente para finalmente entregar a reforma. A julgar pelos eventos no último mês, esse parece ser o caso”, acrescenta.

Além das dúvidas quanto ao momento e amplitude de uma esperada aprovação da reforma da Previdência, os mercados começam a dar sinais de maior sensibilidade ao noticiário sobre a campanha presidencial de 2018.

Apesar das denúncias contra o ex-presidente Lula, o petista ainda aparece na liderança em pesquisas de intenções de voto. O mercado confia, no entanto, que o noticiário contra Lula se intensifique. Isso, combinado com indicadores melhores de atividade econômica, aumentaria as chances de vitória de um candidato reformista capaz de avançar em medidas de reequilíbrio fiscal.

No curto prazo, o noticiário sobre a política monetária americana e a evolução de índices de inflação no Brasil devem mexer com os preços do câmbio e dos juros. Na sexta-feira, o IBGE divulga o IPCA de setembro, mês em que as taxas de inflação implícita embutidas em títulos públicos de prazos mais longos sofreram elevação. E na quarta-feira, a presidente do Federal Reserve (Fed, BC americano), Janet Yellen, fará discurso no qual pode voltar a dar subsídios para fortalecimento de apostas em alta de juros nos Estados Unidos.