Por Sergio Lamucci – Valor Econômico

Maurício Molon: juros devem permanecer baixos nos próximos anos

Com a ampla ociosidade na economia brasileira, a demanda não deve ser problema para a inflação antes de 2020, conclui relatório do Santander. Para o banco, a capacidade ociosa só deverá ser ocupada no fim de 2019, abrindo espaço para os juros permanecerem em níveis baixos por muito tempo.

Na visão do banco, a Selic, hoje em 8,25% ao ano, cairá até 6,75%, devendo ficar nesse nível pelo menos durante grande parte de 2019. A expectativa dominante no mercado é que o Comitê de Política Monetária (Copom) reduzirá a taxa para 7,5% na reunião desta semana, cortando para 7% no último encontro de 2017. Para o Santander, deve haver uma queda adicional, de 0,25 ponto percentual, para 6,75%, no começo do ano que vem.

“A inflação não deverá sofrer pressão de demanda até 2020. Pode haver pressão de outro tipo, como do câmbio ou do desencontro de expectativas inflacionárias, mas não pelo canal de atividade”, diz o economista-chefe do Santander, Maurício Molon.

No estudo “Qual o Tamanho da Ociosidade na Economia Brasileira?”, assinado pelo economista Rodolfo Margato, o Santander estima que a folga de recursos possibilita que o PIB avance sem gerar pressões inflacionárias de demanda por vários trimestres, mesmo projetando expansão mais forte da atividade que a maior parte dos analistas. Enquanto o banco espera que o país cresça 0,8% em 2017, 3,2% em 2018 e 3% em 2019, o consenso de mercado indica avanços de 0,73%, 2,5% e 2,5%.

A enorme capacidade ociosa se deve à grave recessão que começou no segundo trimestre de 2014 e, segundo boa parte dos analistas, terminou no quarto trimestre do ano passado. Em 2015, o PIB caiu 3,8%; em 2016, recuou mais 3,6%.

O Santander calculou primeiro qual seria a taxa de desemprego que não acelera a inflação (Nairu, na sigla em inglês), estimando que ela está em cerca de 9,5%. Embora não seja um nível baixo, é bem inferior à atual taxa de desocupação – 12,6% nos três meses terminados em agosto, segundo a Pnad Contínua. Ou seja, há uma folga expressiva no mercado de trabalho, como nota Molon.

Há também grande ociosidade no setor industrial, diz o economista. Nas contas do Santander, o nível efetivo de capacidade instalada da indústria está hoje mais de três pontos abaixo daquele que provoca uma aceleração dos índices de preços, considerando números da FGV.

Com base nesses resultados, o banco estimou uma função de produção para a economia brasileira, observando a partir de 2011 uma desaceleração no crescimento potencial (o ritmo de expansão que não causa pressões inflacionárias). Na avaliação do Santander, o crescimento potencial deve ficar em 1,8% nos próximos dois anos, bem inferior aos 3,2% registrados na última década.

Apesar disso, Molon não vê riscos de pressões sobre os preços. “A despeito do baixo crescimento do PIB potencial e da nossa visão mais otimista sobre o ritmo da recuperação em curso, acreditamos que a capacidade ociosa da economia doméstica persistirá por bastante tempo”, aponta o relatório. Para o banco, o hiato do produto (a diferença entre o PIB efetivo e o PIB potencial, medida de ociosidade), hoje negativo em 3,8%, será preenchido “somente ao fim de 2019”. “Não devemos ter inflação de demanda pelo menos até 2020, o que reforça nossa expectativa de que as taxas de juros permanecerão baixas nos próximos anos.”

O estudo adverte, porém, que “que outras fontes importantes de incerteza continuam pesando no ambiente econômico doméstico, especialmente no que diz respeito à agenda de reformas estruturais”, com destaque para a da Previdência. ”

Para Molon, o país tem pela frente uma oportunidade de crescer a ritmo razoável com inflação e juros baixos. Nas projeções do banco, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) ficará em 3,2% em 2017 e em 4,2% em 2018, abaixo da meta de 4,5%. O ideal é aproveitar para aprovar reformas e adotar medidas que melhorem o crescimento potencial, diz ele.