Por Alessandra Saraiva e Rafael Rosas – Valor Econômico

O fôlego que o desempenho do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) tomou nos quatro meses anteriores não foi renovado em setembro. Os dados divulgados ontem pelo banco de fomento mostraram um forte recuo das consultas, que tiveram o pior setembro desde 2002, e a inexistência de uma “corrida” de empresários à instituição com o objetivo de garantir crédito ancorado na Taxa de Juros de Longo Prazo (TJLP), que será substituída em janeiro pela Taxa de Longo Prazo (TLP).

No mês passado, as consultas, termômetro do interesse dos empresários por recursos para investimento, somaram R$ 6,526 bilhões, 34,9% abaixo das consultas de agosto (R$ 10,028 bilhões); e 27,5% inferiores a setembro do ano passado (R$ 9,013 bilhões). O patamar representou o pior mês de setembro desde os R$ 4,543 bilhões de 2002. As consultas voltaram ao patamar de abril, depois de quatro meses superando R$ 10 bilhões.

Os desembolsos no mês passado atingiram R$ 5,026 bilhões, 6,2% acima de agosto, mas 27% abaixo de setembro do ano passado, com a infraestrutura sendo responsável por 40% do total, com R$ 2,103 bilhões, 54% acima de agosto e 11,6% a mais que em setembro do ano passado.

No acumulado do ano, a situação também não mostra a volta do apetite empresarial. Enquanto as consultas no acumulado entre janeiro e setembro recuaram 12% na comparação com igual período de 2016, para R$ 74,96 bilhões, enquanto os desembolsos caíram 20%, para R$ 49,973 bilhões, na mesma comparação. Cenário semelhante no acumulado em 12 meses, com queda de 14% das consultas frente aos 12 meses imediatamente anteriores, para R$ 101,1 bilhões, e recuo de R$ 27% nos desembolsos, para R$ 76,8 bilhões.

O superintendente da área de planejamento e pesquisa do BNDES, Mauricio Neves, negou que os números mostrem “tudo caindo”. Ele admitiu que há um compasso de espera para financiamentos em grandes projetos, que demandam maior volume de recursos – o que acabou por derrubar o patamar de consultas até setembro. No entanto, observou que até setembro já há sinais de aumento na demanda por linhas de crédito de acesso rápido, para compras de equipamentos.

Como exemplo, destacou o BNDES Finame, voltado para financiar bens de capital e cujos desembolsos subiram 13% de janeiro a setembro ante igual período do ano passado, para R$ 14,298 bilhões.

Neves também mencionou o BNDES Giro, de capital de giro, cujos desembolsos subiram 289% de janeiro a setembro deste ano para R$ 5 bilhões. “Nestas linhas de acesso rápido, [a melhora] está se materializando de forma mais rápida. No caso de Finame, é importante porque é basicamente aquisição de bens de capital, e compra de bens de capital eleva formação bruta de capital fixo”, salientou.

O superintendente reconheceu ser difícil que as consultas como um todo voltem a subir ainda este ano, mas não descartou possibilidade de que possam se estabilizar e se manter na faixa em torno de R$ 100 bilhões até o fim do ano.

Neves ressaltou que não houve, até o momento, uma “corrida” por pedidos de empréstimo junto ao banco com a proximidade da entrada em vigor da TLP em 2018. Quem pede empréstimos em 2017 ainda pode contar com a TJLP, mais atraente para o tomador, desde que o projeto seja enquadrado ainda este ano junto ao banco, o que pode demorar entre 30 dias e 40 dias após pedido inicial de empréstimo, disse o superintendente.

“Realmente não houve até o momento uma virada brusca para cima”, comentou, sem descatar a possibilidade de que o quarto trimestre mostre algum aumento de interesse, do empresariado, por garantir projetos ainda em modelagem com TJLP.

Ele explicou ainda que a regra do enquadramento não vale para projetos dos leilões de energia para contratação de novas usinas, previstos para dezembro. Os projetos relacionados a esses leilões contarão com TJLP, caso haja interesse em financiamento pelo BNDES, independentemente de enquadramento em 2017 ou depois.