Por Andrea Jubé e Daniel Rittner – Valor Econômico

Na etapa decisiva de contabilidade de votos e definição do calendário de votação, o clima no Palácio do Planalto é de otimismo com a reforma da Previdência. A avaliação interna é que a perspectiva de continuidade no poder, após as eleições de 2018, impulsionará os sete partidos da coalizão governista a garantirem votos favoráveis ao projeto. Dirigentes partidários prometem barrar novos quadros que tenham votado contra a matéria na “janela partidária” de março.

Hoje o presidente Michel Temer comanda mais uma reunião com líderes e dirigentes partidários para reforçar a estratégia de articulação e contar votos favoráveis à proposta.

Temer e o ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha, afirmaram ontem que o apoio à proposta cresceu e que a proposta pode ser votada em fevereiro no Senado. Temer ressalvou, todavia, que a proposta só será pautada se houver apoio suficiente. “Havendo voto, vai a voto”. Na mesma linha, o ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha, declarou que “cresceu muito a probabilidade” de aprovação da proposta.

Padilha ressalta que essa possibilidade aumenta se os sete partidos de apoio ao governo (PMDB, DEM, PP, PSD, PR, PTB, PRB) fecharem questão em plenário. Sobre o PSDB, Padilha ponderou que espera uma posição favorável, já que o compromisso com o ajuste fiscal é bandeira histórica do partido. “Acho que vai ser agora, pelo que estou sentindo”, disse Temer.

Após almoço no Palácio do Itamaraty em homenagem ao presidente da Bolívia, Evo Morales, Temer atribuiu a mudança de humor a quatro fatores: opinião favorável da imprensa sobre a reforma, entendimento pela opinião pública de que a proposta combate privilégios, percepção de que ela é indispensável para sustentar a recuperação do crescimento econômico e reagrupamento da base aliada. “Estou otimista”, declarou.

Há uma avaliação no governo de que a versão simplificada da proposta foi assimilada pela sociedade, na medida em que preserva o início da aposentadoria de homens e mulheres em 55 e 53 anos, respectivamente, com contribuição mínima de 15 anos. Somente após uma transição de 20 anos, em 2038, começa a vigorar a regra de aposentadoria com idade mínima de 65 e 62 anos para homens e mulheres, respectivamente.

Um auxiliar presidencial lembra que os deputados estão conscientizados de que a reforma em votação atinge apenas 25% da população. Com o “povo” eliminado das novas regras, o governo age para convencer os parlamentares de que não há motivo para temer revezes nas urnas.

Um ministro do núcleo político de Temer acredita que a reforma da Previdência será votada e aprovada porque os sete partidos da coalizão de apoio ao governo (número que exclui o PSDB) decidiram consolidar o bloco que estará unido nas eleições de 2018. “A perspectiva de poder ajudará a votar a reforma”, aposta.

Segundo este ministro, os sete partidos da base juntos, formando uma ampla frente eleitoral em 2018, deverão eleger 300 deputados.

Esta grande bancada governista – se confirmada nas urnas – contempla um projeto de poder em duas frentes: a capacidade de eleger o próximo presidente da República, sobretudo em uma disputa de segundo turno (com os novos mandatários já eleitos), e a força para definir a nova Mesa Diretora da Câmara dos Deputados, para o biênio 2019-2020.

Segundo este auxiliar presidencial, a “senha” para a consolidação desta estratégia foi lançada há uma semana, quando Padilha afirmou, em uma entrevista coletiva, que o governo teria um candidato a presidente em 2018, num projeto que excluiria o PSDB.

Quatro dias depois, Temer “selou” essa estratégia no almoço com dirigentes partidários no Alvorada. Estavam presentes lideranças do PMDB, PR, PRB, PSD, PTB, DEM e PTB. Nesse encontro, no último domingo, os presidentes de partidos presentes lançaram a ideia de barrar novos quadros que tenham votado contra a reforma previdenciária. Em março, seis meses antes das eleições, a lei eleitoral permite a troca de partidos sem punição para os políticos, como a perda de mandato.

Uma liderança do PSD confirmou ao Valor a tendência de consolidação deste bloco. Ressalvou, contudo, que não haverá espaço para dois candidatos de Centro, um do bloco governista e outro do PSDB. “O presidente Temer é um líder habilidoso e vai conduzir esse processo”. Segundo este líder, se a candidatura do governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), ganhar corpo, será preciso compor para reunir o bloco em torno dela.

Considerando o PSDB fora do bloco, um ministro pondera que o próprio Michel Temer será o candidato natural à reeleição, num cenário que prevê a aprovação da reforma da Previdência e um grande salto da economia, com a recuperação de empregos e do poder de compra da população.

Segundo este auxiliar, se Temer atingir entre 10% a 15%, ele seria o candidato natural. Os outros nomes colocados, desde já, são os do ministro da Fazenda, Henrique Meirelles (PSD), e do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ). Sendo que nesta configuração, tanto Meirelles quanto Maia poderiam aparecer como cabeça-de-chapa. Esta conjuntura, entretanto, implica antes a aprovação da reforma da Previdência nas duas Casas legislativas.