Por Alex Ribeiro e Eduardo Campos – Valor Econômico

O mercado de crédito voltou a recuar em agosto e deve exibir contração em termos reais pelo terceiro ano consecutivo, mas o Banco Central vê alguns sinais de estabilização nas concessões e prevê o início de uma retomada gradual nos próximos meses, puxada pela queda dos juros básicos da economia.

Em agosto, o estoque de crédito do sistema financeiro cedeu 0,1%, para R$ 3,047 trilhões, e acumula uma contração de 1,9% nos primeiros oito meses do ano. A projeção do BC é que, neste ano, o mercado de crédito tenha crescimento zero, o que significa uma contração em termos reais, já que a inflação esperada pelo mercado é de cerca de 3%.

Caso se confirme a projeção do Banco Central, será o terceiro ano seguido em que o mercado de crédito apresenta contração em termos reais. No ano passado, houve uma queda de 9,2% e, em 2015, de 3,6%. No acumulado em três anos, a queda real do estoque de crédito chega perto de 15%.

Mas o Banco Central enxerga sinais de estabilização no mercado. As concessões de operações de crédito tiveram um acréscimo de 8,9% entre julho e agosto, embora tenha havido uma leve retração – de 0,5% – quando é considerada a média das operações contratadas por dia útil.

A projeção do BC de crescimento zero no crédito em 2017 embute a perspectiva de retomada nos próximos meses. Como houve uma retração de 1,9% no período de janeiro a agosto, será preciso que o estoque de operações de crédito cresça perto de 0,5% ao mês para que, ao fim de 2017, a variação seja de 0%.

“A recuperação está acontecendo, mas é gradual”, disse o chefe do Departamento de Estatísticas do BC, Fernando Rocha. “O mercado de crédito está mais seguindo a recuperação da economia do que liderando.”

Ontem, o BC divulgou a sua pesquisa quadrimestral de condições do mercado de crédito. “No geral, as perspectivas são positivas para o quarto trimestre, sobretudo para as pessoas físicas, mas também para as grandes empresas”, disse Rocha.

Os bancos têm uma perspectiva positiva para a aprovação de operações de crédito de consumo e de financiamentos habitacionais a pessoas físicas no quarto trimestre. A expectativa é positiva também para aprovações de operações com grandes empresas, mas levemente negativo para as pequenas, micro e médias. Na pesquisa, são consultadas instituições financeira que respondem por cerca de 90% do mercado.

Nos últimos meses, o mercado de crédito tem apresentado um desempenho desigual entre os segmentos de pessoas físicas e pessoas jurídicas e entre os mercados livre e direcionado. Em agosto, o crédito a pessoas físicas cresceu 0,7%, na comparação com julho, marcando o décimo mês seguido de alta. O crédito às famílias tem sido favorecido com a queda dos níveis de endividamento e com a recuperação da renda real, dado o recuo da inflação.

Já o segmento de pessoas jurídicas recuou 1% e, nos oito primeiros meses do ano, acumula retração de 7%. O desempenho no segmento tem sido prejudicado pela desalavancagem das empresas, pela retração do crédito do BNDES e pelo fraco desempenho dos investimentos.

Segundo Rocha, a queda da meta da taxa Selic já está se transmitindo para os juros e o spread bancário, e apoiando a expansão do crédito. Em agosto, a taxa média de juros cobrada nas operações de crédito recuou de 29% ao ano para 28,5% ao ano. Os spreads bancários médios, que representam a diferença entre os custos de captação dos bancos e as taxas de aplicação, caíram de 21,5 pontos percentuais para 21,3 pontos.

Os bancos, porém, ainda não repassaram integralmente a queda dos juros básicos da economia aos seus clientes. De outubro de 2016 a julho de 2017, os juros básicos foram cortados em 5 pontos (em setembro, caiu mais 1 ponto), mas as taxas médias cobradas pelos bancos tiveram redução de 4,6 pontos percentuais. A taxa de inadimplência, uma das justificativas sempre lembradas pelos bancos para os juros elevados, se manteve estável em 3,7% basicamente durante todo o período.